Atuação colaborativa potencializa o Manejo Florestal Comunitário e Familiar da madeira

Por Catarina Barbosa

Entidades que integram o Observatório constatam que para a cadeia produtiva da madeira os melhores resultados são de cooperação e multidisciplinaridade a longo prazo.

Colaboração. Essa é a palavra que sintetiza os resultados positivos quando o tema é o manejo florestal comunitário e familiar da madeira. A experiência consta no trabalho: “Iniciativas de Produção de Madeira em Florestas Comunitárias na Amazônia Brasileira: Um esforço conjunto promissor envolvendo comunidades tradicionais e um engajamento colaborativo multi-institucional de longo prazo”.

O documento contém etapas de uma experiência de cooperação realizada na Resex Verde para Sempre, território que abrange quatro municípios do estado do Pará: Brasil Novo, Gurupá, Porto de Moz e Prainha. Na Resex, seis comunidades tradicionais organizadas em três cooperativas participaram do experimento: a Cooperativa de produtores Agroextrativistas do Médio Rio Jaurucu (COOMPAMJ); a Cooperativa Mista Floresta Sempre Agroextrativista (COOMAR); e o Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz (CDS).

Já as Instituições que se articularam para o experimento integram o Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF), são elas: o Instituto Floresta Tropical (IFT); a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB).

“Os resultados apontam que para termos uma boa perspectiva do manejo florestal comunitário da madeira, a cooperação precisa ser interdisciplinar e podemos observar resultados de médio entre três a cinco anos e de longo prazo acima de cinco anos. Isso ocorre quando há uma abordagem coletiva e quando as comunidades têm acesso garantido aos recursos florestais e recebem uma assistência integrada e multidisciplinar”, afirma Maximilian Steinbrenner, pesquisador do projeto Bom Manejo da Embrapa e autor do painel.

O papel do Observatório

Maximilian Steinbrenner afirma que o OMFCF foi fundamental para a existência do experimento, porque permite o diálogo entre atores com o mesmo objetivo. “Se não houvesse uma plataforma que permitisse a troca de saberes, provavelmente não teríamos tido esses resultados”, afirma.

Para o trabalho, cada órgão participou com o seu projeto: o IEB com o Formar Gestãoo IFT com o Programa de Desenvolvimento do Manejo Florestal Comunitárioe a Embrapa com o programa Bom Manejo que, em específico, busca aperfeiçoar o manejo em escala comercial. “De início, você percebe que o Formar Gestão levou a um aumento da maturidade dos empreendimentos comunitários, o que leva a um aumento da competência e com ele consequentemente do impacto social”, pontua.

Segundo Steinbrenner, os resultados mostram que além do manejo ser viável técnica e ambientalmente, ele tem qualidade. “Podemos constatar além de todos os pontos já trazidos que ele é financeiramente viável. As comunidades têm custos de exploração e extração da madeira abaixo dos preços e ainda assim conseguem vender os produtos para territórios distantes das comunidades como é o caso de Belém, capital do Pará, e fazem isso, porque a gestão funciona”.

Apesar dos bons resultados, ao analisar o projeto de forma crítica, Steinbrenner afirma que a gestão ainda é o maior desafio a ser enfrentado. “Nitidamente, as comunidades tradicionais têm vocação, mas a gestão ainda precisa ser dominada e nesse ponto, o papel do IEB é fundamental, porque eles trabalham as habilidades de gestão e organização. Fato é: você não pode ir em uma comunidade fazer manejo florestal sem deixar a gestão de lado”, sintetiza.

Os desafios da falta de transparência do mercado de madeira

Diferente de commodities como a soja ou o milho, a madeira não tem transparência em seus valores, o que faz com que os preços oscilem muito para quem trabalha com essa cadeia produtiva.

“Se você abrir o jornal, não vai poder checar o preço da madeira. Isso faz com que um ator venda madeira em tora a um preço e outro venda dez vezes mais caro. Isso é problema complexo que as comunidades enfrentam, porque tem a ver com a estrutura do mercado de madeira na Amazônia, que infelizmente em boa parte é ilegal”.

Além desse desafio, o risco de perder acesso ao recurso florestal é outro ponto que merece atenção para que a atividade resista. “Não existe produção sustentável de madeira se você tira o status de unidade de conservação das Resex. Essa é uma questão política de forma que precisamos cobrar que os governos priorizem medidas e projetos que além de garantir o acesso à terra promovam a interdisciplinaridade com mínimo de 23 anos de projetos e a legalização de ações que garantem o acesso ao recurso florestal“.

As ações somadas à presença das entidades que compõem o Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar nos territórios favorecem bons negócios para as comunidades. “Temos casos de comunidades que fazem acordos desfavoráveis com empresas madeireiras e as empresas começam a fazer o manejo de tal forma que as comunidades ficam refém. Há casos, inclusive, em que as comunidades ficam devendo dinheiro para a empresa, quando chega a esse ponto, elas perdem a sua autonomia, o que faz com que a atividade deixe de ser sustentável.”

Assim, o pesquisador afirma que a ideia do experimento é contribuir para o fortalecimento do manejo florestal e comunitário. “São muitos os desafios, mas conseguimos provar que essas instituições atuando juntas às comunidades tornam as atividades madeireiras viáveis financeiramente e socialmente”.

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