Grupo planeja o futuro da Verde para Sempre, uma das maiores Reservas Extrativistas do Brasil

Reunião do Grupo de Gestão Florestal (GGF) discutiu os rumos da exploração legal de produtos madeireiros e não madeireiros

“Voltar nos tempos da construção para ver onde a gente está hoje e se está como queríamos”, com essa frase Edilene Duarte da Silva, presidente do Comitê de Desenvolvimento Sustentável (CDS) de Porto de Moz, abriu o encontro do Grupo de Gestão Florestal (GGF), realizado no último dia 18, no município.

Constituído em 2016, o GGF é composto por representantes das associações e cooperativas detentoras dos Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) em execução na Reserva Extrativista (Resex) Verde para Sempre; de organizações de assessoria técnica e institucional; além do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão e fiscalização das atividades realizadas na Resex.

“Esse é um espaço legítimo das comunidades, em que elas fazem uma discussão clara, precisa e sólida pra construir o caminho para alcançar os objetivos que elas querem, que é continuar o protagonismo da luta da defesa do território e da geração da sua renda. É um espaço onde elas conseguem se enxergar e se avaliar”, pontua Edilene Silva, do CDS.

A valorização dos produtos não madeireiros foi uma das pautas da reunião. Durante a manhã, representantes das associações e cooperativas refletiram sobre como está sendo pensado o uso desse tipo de produto e quais são as principais dificuldades para a inserção deles na agenda produtiva das comunidades.

“Quando discutimos os planos, escrevemos que era de uso múltiplo. Temos uma cesta cheia de produtos que geram renda, mas estamos focados no produto grande, que é a madeira. Temos que resgatar essa cultura extrativista [dos produtos não madeireiros], a atividade madeireira não sustenta os 12 meses do ano. Precisamos corrigir isso nesse novo esperançar”, enfatiza Maria Creusa Ribeiro, presidente da Cooperativa Mista Floresta Sempre Viva Três Rios (Coomar), da comunidade Por Ti Meu Deus, da Resex Verde para Sempre.

Os grupos pactuaram estratégias como a realização de inventários específicos para cada produto não madeireiro, o arranjo do plano de manejo casado com a produção familiar, a diversificação da produção como forma de inserir mulheres nas atividades.

Durante a tarde, as comunidades se voltaram para a partilha dos modelos de comercialização utilizados na venda da madeira dos Planos de Manejo Florestal Comunitário Sustentável (PMFCS); para o mapeamento das instituições que fazem assessoria no processo de comercialização e para os desafios encontrados nesse processo.

Maria Creusa durante dinâmica proposta no encontro

Quando as madeireiras vão comprar, elas se articulam [em relação ao preço]. Momentos como esse seriam interessantes para vermos essa questão do preço, as associações têm que estar conectadas em relação a isso. Às vezes a gente ouve falar de preço de madeira que seria melhor deixar lá na floresta. Tá faltando diálogo para o fechamento da valoração desse produto”, alerta Maria Creusa.

Coordenador do Territorialidades, Florestas e Comunidades, programa do Instituto Internacional do Brasil (IEB) que congrega diversos projetos com agenda no território, Alison Castilho comenta as transformações que a Resex passou na última década.

“Nesses quase 10 anos que atuamos em Porto de Moz, em parceria com as organizações que atuam no Manejo Florestal Comunitário e Familiar (MFCF), focamos, principalmente, na agenda de fortalecimento dos aspectos de gestão das organizações locais, e o GGF é resultado desse amadurecimento institucional, pois representa um espaço de planejamento, acompanhamento e gestão da produção sustentável da madeira legal advinda dos planos de manejo, ainda precisa fortalecer a agenda de comercialização coletiva, que deve ser o próximo passo dessa organização coletiva, mas esse espaço para troca de experiências é fundamental para a sustentabilidade da atividade de manejo com o protagonismo comunitário”, pondera.

Alison Castilho – IEB

Denúncia

Comunitários se manifestaram sobre o assédio que algumas empresas madeireiras têm exercido no território, bancando a formalização de novas associações ou cooperativas em troca de contratos que ofereçam preços mais baixos pela madeira, garantindo, inclusive, a comercialização de madeira em pé.

Um dos representantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão federal responsável pela gestão da Resex, Carlos Eduardo Nascimento alertou para a importância da formalização das denúncias. O servidor do ICMBio pontuou também o momento de reconstrução que o órgão  e as políticas ambientais estão passando, e esclareceu as principais dúvidas sobre os PMFCS.

O encontro contou com representantes das Associações Comunitária Agroextrativista do Rio Curuminim; Comunitária de Belém (ACBEM); de Desenvolvimento Sustentável dos Criadores, Agricultores, Piscicultores e Pequenos Madeireiros da Comunidade do Ipanela; Comunitária Deus Proverá (ACDP); Comunitária de Desenvolvimento Sustentável da Comunidade do Juçara (ACDSCJ); Comunitária São Benedito do Ynumbi (ASCOBY); de Desenvolvimento Agroextrativista do Baixo Acarai (Adaba); de Desenvolvimento Sustentável dos Produtores Agroextrativistas da Comunidade Itapéua; do Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz (CDS); das Cooperativas dos Produtores Agroextrativistas do Médio Rio Jaurucu (COOPAMJ); Mista Agroextrativista Floresta Viva Três Rios (Coomar); Mista Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do Rio Arimum (Coomnspra); de assessorias técnicas e institucionais como o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB); o Instituto Beraca; a Unifloresta, e de órgãos governamentais, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

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