Desmatadores em série, lotes à venda e pastos: o que flagramos em áreas de preservação da Amazônia

Investigação conjunta da Repórter Brasil e do The Guardian percorreu duas florestas protegidas na região de Novo Progresso, no Pará, alvo de queimadas no ano passado, e encontrou desmatadores reincidentes que não pagam multas ambientais. Entre eles, um fiscal ambiental do Paraná e uma ex-candidata a vereadora. Com crimes impunes e redução da fiscalização, queimadas de 2019 devem se repetir neste ano em meio à pandemia do coronavírus

Por Daniel Camargos (Repórter Brasil) e Dom Phillips (The Guardian) do Sudoeste do Pará

Apesar de trabalhar como fiscal ambiental do governo paranaense, Paulo José Parazzi de Andrade é um dos responsáveis pela destruição de uma área protegida na Amazônia, na divisa do Pará com o Mato Grosso. Após derrubar parte da Reserva Biológica Nascentes Serra do Cachimbo, Andrade plantou capim – para a criação de gado.

Para chegar até lá é preciso atravessar estradas de terra estreitas que cortam a densa floresta amazônica, intercaladas com paisagens de cerrado. A reserva é uma área de transição entre os dois biomas, além de berço de afluentes dos rios Xingu e Tapajós. Por destruir parte desse santuário ecológico, Andrade recebeu pelo menos seis multas ambientais do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), que, somadas, chegam a R$ 5,4 milhões.

A Repórter Brasil, em parceria com o jornal The Guardian, percorreu durante uma semana, no final de 2019, os caminhos no interior da reserva biológica Nascentes Serra do Cachimbo e da Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, áreas protegidas que estão entre as mais queimadas e desmatadas da Amazônia. As áreas têm território maior que a Irlanda do Norte (1,7 milhão de hectares) e circundam Novo Progresso – cidade com 25 mil habitantes e 618 mil bovinos –, palco das articulações do ‘Dia do Fogo’, a queimada organizada por produtores rurais e empresários realizada em agosto do ano passado e que, depois de  mais de sete meses, permanece impune e sem nenhum indiciamento.

Araras, bichos-preguiça, tamanduá, porcos do mato e até um raro macaco-aranha de pelagem branca cruzaram o caminho da reportagem, mas o animal onipresente é o boi. O desmatamento sistemático e as queimadas expulsam a fauna silvestre e abrem espaço para as pastagens. Das quatro áreas desmatadas visitadas pela reportagem, três estavam dedicadas à criação de bovinos e uma era fruto de grilagem (roubo de terras), inclusive com placas de “lotes à venda”.

Um cenário que é corriqueiro. No interior da Flona Jamanxim são pelo menos 101 fazendas de pecuaristas, sendo que 33 fornecerem bois diretamente para os frigoríficos e outras 68 vendem para terceiros, para engorda. Na Rebio (Reserva Biológica) Nascentes Serra do Cachimbo, existem 27 fazendas de gado, segundo levantamento feito pela professora de geografia da Universidade Wisconsin, Holly Gibbs, que monitora as cadeias de gado da Amazônia há mais de uma década.

Leia a reportagem completa em reporterbrasil.org.br | Foto: João Laet

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