Mapas identificam regiões para restauração de florestas tropicais

Estudo pode auxiliar governos do mundo a escolher áreas com maior potencial de recuperação

Um estudo liderado pelo professor e pesquisador Pedro Brancalion, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, teve por objetivo gerar mapas globais que identificassem as oportunidades de recuperação de florestas tropicais. O foco do trabalho, iniciado em 2015, foi entender melhor como é possível ter mais inteligência espacial para identificar as potenciais áreas para restauração das florestas. O artigo foi publicado em julho na revista científica Science Advances.

Atualmente existem diversas metas globais que têm por objetivo recuperar florestas, principalmente as tropicais. O Desafio de Bonn, por exemplo, é um esforço internacional lançado em 2011 pelo governo da Alemanha e pela IUCN (sigla em inglês para União Internacional para Conservação da Natureza) que visa a restaurar 350 milhões de hectares de paisagens florestais até 2030.

Apesar dessas medidas, existe um grande desafio: a princípio, as florestas seriam recuperadas em áreas já desmatadas e que são usadas de alguma forma, como para agricultura e pecuária. Restaurá-las implicaria, em muitos casos, deixar de utilizar o local para investir em sua recuperação.

“A metodologia foi baseada em dois grandes grupos de variáveis. O primeiro sendo os benefícios que a restauração oferece ao homem e à natureza; e o segundo, a viabilidade de restauração em diferentes áreas”, explica Brancalion. Foi a partir do cruzamento dessas informações que os mapas surgiram.

Dentro do grupo de benefícios, foram selecionados quatro: a conservação da biodiversidade, a diminuição das mudanças climáticas, a adaptação a essas mudanças a segurança hídrica, que diz respeito à melhoria do fornecimento de água com o intuito de evitar a escassez para populações humanas. “Desenvolvemos pesquisas que resultaram na geração de mapas globais de oportunidade para restauração visando a atender esses diferentes objetivos de benefícios”, esclarece o pesquisador.

Depois da geração desses primeiros mapas, três fatores de viabilidade foram elencados. O primeiro foi o custo de oportunidade de uso da terra, que diz respeito a quanto os agricultores ganham para usar uma área; foi considerado que quanto mais dinheiro ele ganha, menor é a chance ou viabilidade de se restaurar a floresta. O segundo está ligado à chance de recolonização do local pela biodiversidade, relacionado diretamente ao custo de recuperação, uma vez que “quanto mais pudermos contar com a natureza para recuperar minha área, menor é o gasto com a recuperação”, esclarece. E, por fim, a persistência da floresta ao longo do tempo.

Essa última variável tem extrema importância, pois está relacionada ao grupo de benefícios escolhidos na primeira etapa do trabalho. Para que as florestas em restauração possam gerar vantagens, elas precisam se desenvolver. Uma floresta de dois anos, por exemplo, não consegue cumprir os objetivos do estudo, pois é essencial seu amadurecimento. Então, as taxas recentes de desmatamento foram estudadas em determinado raio em torno da área. “Consideramos que, quanto maior for o desmatamento relativo nessa área nos últimos dez anos, menores as chances de uma nova floresta estabelecida ali persistir ao longo do tempo”, comenta Brancalion. A partir desses três novos fatores de viabilidade outro mapa foi gerado.

Por Marcelo Canquerino

Foto: Wikimedia Commons

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