Amazônia: caminho para o pós-Bolsonaro

Às vésperas da Greve Global do Clima, livro de Ricardo Abramovay propõe: Economia do Conhecimento pode salvar a floresta e garantir vida digna a seus 25 milhões de habitantes. Autor lançará obra e a debaterá nesta 4ª-feira, em SP

Por Antonio Martins

Começou a contagem regressiva para o que pode ser a maior mobilização já realizada em favor do clima e do planeta. Um mapa repleto de pequenos pontos indica: nesta sexta-feira as ruas de milhares de cidades do mundo estarão tomadas por gente – muito jovem, e com claro sentimento anticapitalista – que exige outra relação com a natureza e, portanto, outra lógica social. Pela primeira vez, o Brasil participará de forma relevante. Há meses, prepara-se um grande protesto em São Paulo (na Avenida Paulista, às 16h). Mas nos últimos dias, surgiram sinais de que haverá manifestações e outras atividades em mais 32 cidades (veja quadro ao fim do texto). Durante e após as manifestações, uma questão provocará os participantes: ainda é possível defender a Amazônia, sob intensa pressão do governo e do poder econômico mais retrógrado? Como?

Dois dias antes da greve, em São Paulo, um debate indispensável tentará responder à questão. O economista Ricardo Abramovay apresentará seu estudo Amazônia – por uma economia do conhecimento da natureza, agora transformado em livro. Debaterão com ele os filósofos Pablo Mariconda (IEA-USP, Associação Scientiae Studia) e Hugh Lacey (Swarthmore College, EUA). Coordenará o debate a jornalista Juliane Cintra, diretora regional da Abong em São Paulo. A ambição e concretude de proposta construída por Abramovay tornam sua obra original e indispensável.

Participante, há décadas, de reflexões e lutas em favor da Amazônia, ele distancia-se, porém, daqueles que enxergam na região apenas o idílio natural, o paraíso terrestre que deveria permanecer intocada. Abramovay destaca: vivem, só na parte brasileira do bioma, 25 milhões de pessoas – mais que Suécia, Finlândia e Noruega juntos. Esta população cresce, há mais de três décadas, a um ritmo duas vezes maior que o do conjunto do país. Instala-se em condições precárias: em terras tomadas por grileiros, exercendo atividades mal remuneradas, submetida permanentemente à violência, espalhada por um imenso território, desassistida pelo Estado e pela Justiça. Há dois caminhos: um é deixá-la ao léu e permitir que o poder econômico, frequentemente associado ao crime, impulsione-a contra a floresta e as populações originárias. Nas queimadas e extração ilegal de madeira, na ocupação de áreas protegidas por lei (50% do território amazônica), mas nunca suficientemente defendidas, nos garimpos clandestinos, nos canteiros de obras absurdas.

A alternativa é oferecer a milhões de amazonenses ocupações dignas, junto à floresta em pé. Isso é possível; já ocorre, em pequena escala; pode se generalizar facilmente, com enorme ganho social ambiental e econômico, caso mudem as políticas públicas para a região. Dos cinco capítulos da obra, o terceiro, que trata especificamente deste tema, é o mais instigante. Abramovay cita algumas das atividades que indicam o possível surgimento de uma Economia do Conhecimento da Natureza – subtítulo do livro. A conservação da cobertura vegetal já é, em si, um grande serviço ao planeta – mas não gera renda. Ela pode estar associada ao Extrativismo Sustentável; ao Turismo Ecológico; ao Manejo Florestal (em que a madeira é explorada em ciclos de 25 a 35 anos, de modo a retirar apenas as árvores maduras, preservando as jovens); à Restauração Florestal com espécies nativas nas áreas hoje degradadas (como fazem China, França e Alemanha, por exemplo).

 

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