Curso de gestão e plano de negócios são avaliados pelo Coordenador do grupo de manejadores da COOMAP como um dos fatores que influenciaram os bons resultados da extração madeireira deste ano.
“Os resultados deste ano, sem dúvida, são melhores do que os de 2021 e 2022”. A avaliação é de Samuel Oliveira, Coordenador do grupo de manejadores da Cooperativa Mista Agroextrativista da Resex Arióca Pruanã (COOMAP) e diz respeito à safra do manejo da madeira na reserva. Ele acredita que junto com o intenso verão amazônico de 2023, os cursos de aprimoramento realizados nos últimos anos estão se refletindo de forma transparente nos bons resultados deste ano.
“Esse ano, puxamos em um dia e meio o que puxamos a safra toda de 2021. Foram mais de 700 metros cúbicos de madeira, enquanto que no primeiro ano não foram nem 700 metros cúbicos em toda a safra”, lembra.
Samuel Oliveira explica que a madeira extraída por meio do manejo florestal comunitário e familiar caminha para se tornar a principal forma de renda das famílias da reserva, atualmente a principal atividade de sustento é o manejo do açaí e da farinha. Na Resex Arióca Pruanã o manejo florestal e comunitário é de uso múltiplo, ou seja, mais de um produto manejado. Do total de aproximadamente 830 famílias, cerca de 129 atuam no manejo madeireiro.
“Estamos em nosso terceiro ano de manejo sustentável da madeira. O primeiro ano foi o mais difícil, porque na época choveu muito e não conseguimos fazer o transporte. Lembro que nesse processo perdemos 10% da extração. No fim, foi só prejuízo”, recorda.
Com o apoio de instituições ligadas ao Observatório do Manejo Florestal e Comunitário (OFMC), os extrativistas da comunidade, assim como de outras reservas, realizaram diversos cursos de qualificação, dentre eles cursos de gestão e plano de negócios. “Esse aprendizado sem dúvida nenhuma fez diferença. Após o plano, sempre fazemos uma avaliação de todo o processo, assim vamos aprendendo formas mais eficientes para trabalhar”, afirma.
Vencendo os desafios logísticos
Além da qualificação, Samuel afirma que diagnosticar os desafios do território e saber administrá-los também ajudou a melhorar a dinâmica de trabalho. Segundo ele, a terra onde a reserva está localizada é uma área baixa com terreno irregular. “Ela tem covas de cana que chamamos de ‘pula-pula’, então o trator precisa nivelar o terreno para poder fazer a estrada e puxar a madeira. No início, esse era um grande problema, porque são poucos os lugares nivelados, agora que já sabemos disso, podemos lidar com esse desafio de forma direcionada”, pontua.
A adversidade do terreno foi uma das muitas coisas que foram repensadas ao longo dos últimos três anos. “Corrigimos muitos erros da primeira e da segunda extração e nessa podemos perceber o quanto avançamos. Lembro que no segundo ano o tempo estava melhor: o verão colaborou, mas também não foi fácil, porque o consumo foi alto, o combustível também e tivemos que refazer tudo como reabrir estradas, por exemplo. De 6.300 metros cúbicos que foram liberados para extração só conseguimos extrair só 4.091 m³. O restante deu erro, porque erramos no inventário”.
O processo pré-exploratório, ou seja, de planejamento foi outro ponto de atenção listado pelo extrativista que foi melhorado nos últimos anos, nesse processo, o teste do oco foi um dos aprimoramentos. Samuel lembra que no primeiro ano, eles não fizeram o teste (para checar se a árvore está oca) na fase do inventário e quando chegou na hora da derrubada eles ficaram impossibilitados de realizar alguns cortes, porque árvores ocas não podem ser colhidas. “Na segunda extração, a gente aprendeu mais coisas e não tivemos esse tipo de erro de inventário. Agora estamos melhor ainda”.
As melhorias consequentemente se refletem na parte financeira. “Esse ano, o nosso resultado é 20% superior ao do ano passado. Em 2022 vendemos o metro cúbico da madeira a 290 reais, esse ano conseguimos a 350 reais”.
Para dinamizar o preço, a técnica usada pelos extrativistas foi a de unificar o preço do lote. “Decidimos vender uma madeira pela outra. Aqui na reserva temos muitas madeiras de valor mais baixo. Nós até temos Cumaru, Angelim, Massaranduba, que são as preferidas, mas elas não representam nem 20% do total da nossa madeira. A maior parte é da espécie das Quaruba, que têm um preço mais baixo no mercado. Por isso resolvemos vender o lote e acredito que acertamos na decisão”, resume.
A renda para as comunidades
A estimativa de lucro bruto este ano é de 5 milhões e 200 mil reais, estima Samuel. No entanto, ele explica que quem trabalha com a madeira sabe que esse valor não é diretamente rateado entre a comunidade, uma vez que é preciso levar em conta as perdas, ou seja, as árvores que já morreram e não podem ser colhidas.
A distribuição, então, é feita de forma única, uma vez que é um só plano para toda a comunidade. Atualmente, a detentora do plano de manejo é a Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Arioca Pruanã (AMOREAP). “Mais para a frente a gente pensa em passar os planos de manejo para a cooperativa, porque acreditamos que a vocação da associação não é de gerir negócios financeiro, mas sim a parte social, mas ainda estamos estruturando isso”.
Atualmente, o grupo interno dos manejadores tem aprovado em assembleia a seguinte divisão financeira do valor total são retirados os custos operacionais, custo de aluguel de maquinário, combustível, entre outros, o que sobrar é dividido em porcentagem: 40% é destinado para investir na safra subsequente, 35% é o fundo comunitário destinado a todos os membros da reserva extrativista e 25% é o fundo manejador, que é específico para os que trabalharam diretamente na colheita da madeira.
“Esses 35% da comunidade, que abarcam toda a reserva, é aprovado em um conselho. Ele já foi previamente aprovado em uma assembleia, mas agora precisa ser aprovado no conselho deliberativo para ter validade, porque às vezes ele sofre alguma alteração durante a deliberação”.
A safra deste ano na Resex Arióca Pruanã terá duração de 60 dias, sendo que a safra iniciou em 8 de agosto.
Foto: Acervo IFT
Texto: Catarina Barbosa