No município de Portel e Breves, no arquipélago do Marajó, no Pará, um projeto tem por objetivo plantar 500 mil mudas de espécies nativas.
Após uma queda em janeiro deste ano, o desmatamento na Amazônia voltou a crescer em fevereiro. A informação do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) aponta que foram derrubados 325 km² de floresta – a maior devastação registrada para o mês de fevereiro em 16 anos. Em contraponto a esse dado, em dois municípios do Marajó, 26 mil mudas foram plantadas – via sistemas agroflorestais – como forma de combater o desmatamento. A meta é plantar 500 mil até 2024.
O reflorestamento pode ser feito de diversas formas e no caso do “projeto Marajó Socioambiental 2030”, o escolhido foram os sistemas agroflorestais (SAFs) que têm por princípio se assemelhar aos ecossistemas naturais no qual árvores exóticas ou nativas vivem em consórcio a culturas agrícolas, trepadeiras, forrageiras e arbustivas.
Entre as espécies escolhidas para compor o Marajó Socioambiental estão: cupuaçu, açaí, ipê, mogno e muitos outros, totalizando 44 espécies florestais e frutíferas.
O processo consiste em cultivar mudas em viveiros comunitários localizados em dois municípios do Marajó: Portel e Breves e depois distribuir essas mudas. “São sete viveiros comunitários em Portel e um no município de Breves, sendo que alguns têm a capacidade de produzir até 12 mil mudas. Depois, essas mudas que são cultivadas por moradores das comunidades são plantadas para gerar alimento e renda para essas famílias”, afirma o analista socioambiental do IEB, Marcos Silva.
Marcos destaca também que a escolha deste sistema levou em conta a necessidade de se produzir alimentos para as famílias. “Dentre os tipos de reflorestamento, os SAFs otimizam o uso da terra, unindo a preservação ambiental com a produção de alimentos, conservando o solo e diminuindo a pressão pelo uso da terra para a produção agrícola”, acrescenta.
Primeiros passos
Na primeira etapa, 80 famílias de Projetos Estaduais de Assentamentos Agroextrativistas (PEAEX ) situados em Portel, no Marajó, iniciam o plantio de 60 mil mudas. Todas as famílias vivem em áreas de PEAEX com plantio em: Acangatá, Acutipereira, Alto Camarapi, Jacaré Puru, Ilha Grande Pacajaí e Ilha Grande Laguna.
No processo, milhares de pequenos açaizeiros e cacaueiros, entre outras espécies nativas da região, serão plantadas nos terrenos das famílias engajadas no projeto. Para cumprir a meta, o IEB apostou na revitalização dos viveiros já instalados na região e no engajamento das comunidades no desenvolvimento das atividades.
Representante do viveiro do Peaex Alto Camarapi, Romário Pacheco comemora a retomada dos espaços. “O nosso viveiro tem capacidade para 12 mil mudas e a gente já conseguiu a meta desse primeiro ciclo. Nós já temos cadastro de algumas famílias que vão receber essas primeiras mudas e de outras que também estão nos procurando para receberem. Acho que esse projeto é muito importante porque vai alavancar essa produção maior de variedade de espécies que a gente tem hoje e no futuro tornar o território mais sustentável, com a produção de alimentos saudáveis”, avalia Pacheco.
Outra moradora da comunidade, Gracionice Costa da Silva Correia, que atualmente é presidente da cooperativa Manejaí e da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Alto Pacajá (ATAAP) vê a ação de forma positiva sobretudo no que diz respeito a geração de renda tanto por quem recebe as mudas como também por aqueles que produzem as mudas e também para os “viveiristas”, que são da própria comunidade.
“Quando o projeto absorve mão de obra técnica da própria comunidade isso é uma valorização profissional comunitária, valorização do potencial humano local que temos, e dentro disso vem a melhoria da qualidade de vida para as famílias, com a geração de trabalho e renda. Essas pessoas têm o conhecimento empírico, aquele conhecimento tradicional comunitário que, compartilhado, vai melhorando as técnicas e buscando melhor qualidade de vida para todos e também promove a segurança territorial, a segurança ambiental. Tudo isso permite um mundo melhor, com meio ambiente mais equilibrado, um meio ambiente que ainda se possa ter conhecimentos de muitas espécies de matérias e também o desenvolvimento da tecnologia para uma educação diferenciada ao campo”, afirma.
Para aumentar a efetividade do plantio, o Marajó Socioambiental 2030 está realizando o FORMAR Restauração e Gestão, formação continuada que dialoga com os saberes tradicionais dos educandos. “A gente quer aproveitar todo o conhecimento acumulado dos cursistas e repassar algumas técnicas que podem melhorar o que eles já fazem. Vamos ter um círculo só sobre sementes, sobre como coletar, armazenar, qual a época adequada para cada espécie”, conta.
Marajó Socioambiental 2030
Dividido em quatro eixos centrais, o projeto pretende estimular a restauração florestal e fomentar o fortalecimento de comunidades no arquipélago do Marajó, com foco nos municípios de incidência, que são: Breves, São Sebastião da Boa Vista, Melgaço, Portel, Muaná e Curralinho.
Previsto para ser implementado até 2024, uma das metas do projeto é plantar 500 mil mudas de espécies agroflorestais, produzidas a partir de viveiros comunitários instalados em Portel e Breves, municípios onde o FORMAR Restauração e Gestão será realizado. A equipe promoverá a integração dos demais municípios por meio de atividades de intercâmbio e outras ações que possibilitem a socialização dos conhecimentos.
O plantio de mudas segue até maio de 2023, durante o período de chuva, época propícia para o cultivo de espécies perenes (culturas de ciclo longo). O projeto é implementado pelo IEB, com a parceria da Awí Superfoods e do Instituto 5 Elementos, e com o apoio do Fundo Socioambiental (FSA) da Caixa Econômica Federal.
A ação integra o projeto Marajó Socioambiental 2030, realizado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Associação dos Moradores Agroextrativistas do Assentamento Acutipereira (ASMOGA) e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Portel (STTR), com apoio do Fundo Socioambiental da Caixa, todos membros do Observatório do Manejo Florestal e Comunitário (OMFC).
Referências:
https://www.embrapa.br/codigo-florestal/sistemas-agroflorestais-safs
https://imazon.org.br/imprensa/desmatamento-na-amazonia-cresce-7-e-tem-o-pior-fevereiro-em-16-anos/
https://www.esalqjrflorestal.org.br/post/reflorestamento-definicao-e-beneficios
Texto: Catarina Barbosa