Seminário discute economia da sociobiodiversidade na Amazônia

Evento reuniu lideranças de comunidades do Amapá, Manaus, Rondônia e Pará 

Ampliação de laços e trocas de experiências marcaram o seminário “Economias da Sociobiodiversidade: A Construção Social do Mercado”, evento realizado no último dia 22, em Belém. Mulheres extrativistas, lideranças comunitárias e redes de organizações que atuam com o fortalecimento do Manejo Florestal de Uso Múltiplo na Amazônia dialogaram sobre estratégias de comercialização de produtos da sociobiodiversidade.

O evento foi realizado pelo Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF), em parceria com o projeto “Promoção de Cadeias e Gestão Territorial e Ambiental de áreas Protegidas”, executado pelo Instituto internacional de Educação do Brasil (IEB), com apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento (USAID).

“O nosso objetivo foi fortalecer o debate entre redes de empreendimentos comunitários que atuam junto a cadeias produtivas da sociobiodiversidade da Amazônia, em especial açaí, castanha, madeira e pirarucu. O Manejo Florestal Comunitário e Familiar praticado por povos e comunidades tradicionais mantém a floresta em pé e se apresenta como uma alternativa para a construção de um modelo de desenvolvimento ambientalmente sustentável, social e economicamente justo”, afirma Alison Castilho, representante da secretaria executiva do OMFCF e coordenador do Programa Territorialidades, Florestas e Comunidades do IEB.

O seminário marcou o encerramento do Formar Gestão, o Programa de Formação Continuada em Gestão de Empreendimentos Comunitários na Amazônia, iniciativa que integra o Projeto “Cadeias de Valor Sustentáveis e Gestão Territorial e Ambiental de Áreas Protegidas na Amazônia Brasileira”, fruto da parceria entre o Governo Brasileiro e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional – USAID. 

Iniciada em julho de 2021, a formação contou com cerca de 40 participantes, com vivências diversas nas cadeias de valor da castanha, do açaí, do pirarucu e do jacaré. O curso é coordenado pelo IEB, por meio do envolvimento de um Comitê Pedagógico formado pela Operação Amazônia Nativa, Fundação Vitória Amazônica, Pacto das Águas, Memorial Chico Mendes, Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, ICMBio, e Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS).

“Essa aproximação do OMFCF com as Organizações participantes do Formar Gestão se dá em um momento estratégico, pois a Rede do Observatório está neste momento discutindo estratégias sobre como acumular mais sobre as demandas do Manejo Florestal Comunitário e Familiar em outros estados da Amazônia, além de como mapear potenciais parceiros para uma ampliação dessa discussão nesses outros estados”, pontua Castilho.

Programação

O seminário foi composto por três mesas temáticas. A primeira abordou a gestão de empreendimentos comunitários na Amazônia, com a participação de Diomir Santos (ACJ), Tito Neves (Resex Cuniã), Karolina Matos (Coomap), Edilene Duarte (CDS), Micheli Marques (Resex Mapuá /Coama) e Jaqueline Sanches (Amazonbai), 

“O manejo de pirarucu, pra gente, é um símbolo de luta, de resistência e de relação com a preservação das nossas florestas indígenas. Pra gente o manejo é um grande feito e, em relação a outras atividades que a gente realiza, representa a nossa história e a nossa coletividade”, afirmou Diomir Santos, da Associação Comercial de Jutaí.

Desafios logísticos, formação de preço, acesso a canais de comercialização e conflitos nos territórios foram alguns pontos comuns nas falas das lideranças. O manejo florestal da madeira foi e continua sendo muito marginalizado, as pessoas acham que causa grande impacto e que é poluidor. Além de gerar renda, o manejo é estratégia de defesa do território”, afirmou Edilene Silva, da Reserva Extrativista Verde Para Sempre.

A segunda mesa abordou a relevância das cadeias da Sociobiodiversidade para a Economia da Amazônia, com a participação de representantes da The Nature Conservancy (TNC), Natura e Rede Bragantina, coletivo de organizações comunitárias que trabalha com princípios e práticas da agricultura familiar, agroecologia, produção orgânica e economia solidária.

Representante da TNC, Ellen Castro apresentou um estudo sobre a relevância econômica das cadeias da Sociobiodiversidade Amazônica, feito em parceria com pesquisadores Universidade Federal do Pará (UFPA); enquanto o coordenador de relacionamento e abastecimento da Natura, Carlos Talini, pontuou a lógica da atuação da empresa no estabelecimento de relações comerciais com organizações comunitárias fornecedoras de matérias primas.

A Rede Bragantina, representada por Nazaré Reis, compartilhou experiências de cooperativismo alternativo e de economia solidária praticadas pela rede. “Não se vê só os produtos, mas sim a floresta. Nós temos que fazer negócios a preços justos, precisamos dessas pessoas com vida”, pontuou no encerramento de sua fala.

A última mesa foi composta por Roberta Coelho, representante do Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF); Adriano Maleu, do Observatório da Castanha; José Ivanildo, do Conselho Nacional das Organizações Extrativistas (CNS); e Germano Paumari, do Coletivo do Pirarucu. A mesa dialogou sobre possibilidades de fortalecimento do trabalho em rede em prol das cadeias de valor na Amazônia Brasileira.

Exposição

Mulheres da Cozinha Coletiva do Beira Amazonas, do Amapá, expuseram o livro “Receitas da Culinária Agroextrativista”, obra que reúne dez receitas feitas a partir de frutos, óleos, sementes e outros derivados da floresta.

A cozinha coletiva é uma experiência solidária de inclusão produtiva sustentável de famílias agroextrativistas a partir do protagonismo feminino, fruto do trabalho desenvolvido em rede entre o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e as Associações da Escola Família Agroecológica do Macacoari (AEFAM) e de Moradores Agricultores Familiares da Comunidade de Rio Bacaba (Agrobacaba), com a parceria da Universidade Estadual do Amapá (UEAP), da Cooperativa Amazonbai e das organizações que integram o Programa Economias Comunitárias do Amapá.

Também foi realizada exposição e comercialização de artesanato feito por mulheres indígenas da etnia Warao, uma iniciativa que se insere no contexto do projeto “Povo das Águas: Trabalho, Participação e Meios de Vida”, realizado pelo IEB em parceria com o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), com o objetivo de promover a inserção socioprodutiva da população Warao nas cidades de Belém e Ananindeua.

A íntegra do seminário está disponível neste link, no YouTube do OMFCF.

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