Cipó-titica: a ancestralidade das famílias de Porto de Moz

A Associação de Mulheres Emanuela retoma o sonho de voltar a comercializar peças a partir do produto florestal.

O manejo florestal e comunitário quase sempre tem como foco a atividade madeireira. No entanto, há uma série de outros produtos que podem ser extraídos e/ou coletados das florestas e que também podem gerar renda para as comunidades tradicionais, são eles: frutos, cascas, cipós, flores e outros recursos naturais. Em Porto de Moz, no Pará, o cipó-titica também chamado de vime ou, apenas, cipó é um deles e voltou a ser visado por mulheres que desenvolvem atividades agroflorestais no município.

Cristiana Martins Braga, nasceu em Porto de Moz e atualmente trabalha com o manejo da madeira na Resex Verde para Sempre, ela também integra a Associação de Mulheres Trabalhadoras do Campo e da Cidade (Emanuela) e é com essas mulheres que ela busca retomar o sonho de trabalhar com o cipó. 

Cristiana conta que a organização voltou a discutir formas de trabalhar com o cipó por entender que é preciso diversificar as possibilidades de renda sem que isso prejudique a natureza. “O cipó cresce de forma espontânea na floresta, com o manejo faríamos a colheita dele sem impedir que ele continuasse nascendo”, resume.

Além disso, Cristiana esclarece que não é a primeira vez que as mulheres da Associação de Mulheres Trabalhadoras do Campo e da Cidade (Emanuela) pensam em trabalhar com cipó. “A primeira edição do projeto Cipó-Titica foi em 2001, ou seja, há 22 anos, mas esse é um conhecimento que aprendemos com nossas mães, tias, avós e que agora queremos retomar”, afirma. 

O objetivo da associação é estabelecer parcerias e apoios para que o sonho saia do papel. “No período do projeto [em 2001], tivemos o apoio de dois editais da Secretaria de Agroextrativismo do governo federal, mas neste momento estamos sem recursos e precisamos de algumas coisas para funcionar como madeira para fundo de cesto, armação para cadeiras, estantes, entre outros”, esclarece. 

Do cipó podem ser confeccionados produtos diversos como paneiros, vassouras, cestas, estantes, cadeiras e até bolsas. Além da renda, a utilização deste produto florestal é também uma alternativa ao desmatamento, tanto do ponto de vista socioeconômico quanto do ecológico.

Da colheita à confecção

O manejo florestal comunitário do cipó, assim como outros manejos comunitários tem por princípio respeitar os mecanismos de sustentação do ecossistema do cipó, de forma mais simples, utilizá-lo sem que isso cause danos à sua existência. Nesse sentido, o produto pode gerar benefícios econômicos, sociais e ambientais para as pessoas que vivem na floresta.

Cristiana detalha que as etapas de extração do cipó são: o inventário que determina o local onde será feita a colheita, a coleta propriamente dita, o processo de descascar o cipó, e, por fim, a retirada em fibras. “A quantidade de fibras e tempo de duração do trabalho depende do tamanho da peça a ser confeccionada. Para fazer uma cesta demoramos, em média, um dia, mas peças grandes levam até uma semana para ficar prontas”, conta. 

Em 2001, na primeira edição do projeto, 73 mulheres foram qualificadas para trabalhar de forma comercial com o Cipó, agora Cristiana Martins Braga espera superar esse número. “Eu tenho muita confiança de que iremos qualificar ainda mais mulheres. Esse trabalho é muito importante para a nossa comunidade de várias formas, seja para as nossas famílias como também para a manutenção da floresta em pé. Estimamos que em Julho, que é quando realizamos o FestSol em Porto de Moz, já possamos ter alguns produtos prontos. Lembro que chegamos a vender um conjunto de salas [em 2001] por R $1.500. Ou seja, é possível gerar renda sem destruir a floresta e ainda colocar comida na mesa dos nossos familiares”. 

Fonte: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/859448/1/doc95cipotitica.pdf

Texto: Catarina Barbosa/OMFCF
Foto de capa (cipó-titica): MARTINS, Fábio Sian (Embrapa)

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