Floresta para Sempre: seminário avalia desafios e futuro da exploração na Resex Verde para Sempre

Programação marcou o encerramento do projeto Cadeias de Valor Sustentáveis, financiado pela Usaid e executado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e parceiros

Quatro crianças entraram no espaço carregando objetos que representavam terra, água, fogo e ar. Passaram no meio do salão e depositaram os itens no altar, montado na mesa que acompanharia dois dias de discussão em torno da Verde para Sempre, a maior Reserva Extrativista (Resex) do Brasil.

Nos dias 19 e 20 de janeiro de 2023, os atos de resistência das mulheres e homens extrativistas estavam contidos nos cantos que entremeavam a programação, na dança e na partilha das memórias e das estratégias desenhadas ao longo dos últimos anos, marcados por desmontes de políticas públicas.

Sob o título de Floresta para Sempre, o seminário, realizado em Porto de Moz, marcou os 18 anos da Resex e os 10 anos de atividade legal de extração de madeira e outros produtos da floresta. O futuro, contido nos símbolos, ganhou o reforço das conversas em torno de organização e mobilização social; arranjos produtivos sustentáveis; e articulação.

Moderada pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), a primeira mesa cumpriu o papel de rememorar o movimento e a luta que levaram à criação da Verde para Sempre, num decreto publicado em novembro de 2004. Lado a lado, João Bernardes, da Associação da Casa Familiar Rural (CFR) de Porto de Moz; João Batista Uchoa, da Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP); e Edilene Batista, do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) de Porto de Moz conduziram os presentes numa viagem pelos anos, começando pela década de 80. “Importante mostrar pra vocês que muitas coisas foram difíceis, muitas ameaças foram feitas, porque não queriam que o povo se organizasse. Muitas pessoas foram mortas e presas”, disse João Bernardes, enquanto falava sobre a importância da Igreja e dos sindicatos para o início da mobilização social.

A nossa maior conquista é a liberdade. Liberdade de podermos estar aqui dialogando sobre a geração de renda e, ao mesmo tempo, a conservação. A Reserva não só protegeu as florestas e os rios, como protegeu também a vida das pessoas”.

Edilene Batista, hoje coordenadora geral do Comitê de Desenvolvimento Sustentável (CDS) de Porto de Moz.

Edilene Duarte, coordenadora Geral do CDS de Porto de Moz

Não podemos aceitar ninguém falar que é preciso destituir a Resex Verde para Sempre para vocês terem liberdade. Estamos vendo hoje que essa Resex foi o que trouxe a liberdade de vocês. Dizer aos mais novos, pode ser que ainda não tenham tido a oportunidade de ouvir o que estão ouvindo hoje, essa luta existiu, existe e não vai morrer”, complementou Edilene.

Da plateia, homens e mulheres se levantavam para somar às memórias trazidas pela mesa. Como a Luiza Froz, que disse que “era um Deus nos acuda, antes da Resex, com tanto processo que a gente [o sindicato] tinha que dar entrada porque tinha sempre alguém ameaçando. É um lembrete para os que não têm esse conhecimento, para quem ainda assim, quando vai lista lá, assina. É muito difícil uma sessão na Câmara [municipal] que não fale da miséria que o povo da Resex passa. Então isso [o seminário] é pra gente desmentir e não se acovardar”, cravou Luiza.

Com o microfone em mãos, Erisvaldo Barbosa chamou a atenção para outras disputas. “Importante ressaltar que a luta da criação foi mais intensa, mais corpo a corpo. Mas agora a luta é o modelo de plano de manejo que precisa ser consolidado na Resex. Tem outras forças que estão cooptando as lideranças e as comunidades, para querer consolidar outro modelo. O que nós precisamos encampar é a questão da regularização fundiária”, disse Erisvaldo.

Depois da viagem ao passado, homens e mulheres foram convidados a falar de futuro, pensando na diversificação de renda por meio da exploração legal de produtos não madeireiros, como óleos, peixes, e outros. A segunda mesa do dia 19 contou com a presença de Ana Carolina Vieira, diretora executiva do Instituto Beraca; Erisvaldo Barbosa, da Associação dos Pescadores Artesanais de Porto de Moz (Aspar); Edinaldo Batista, coordenador de produtos não madeireiros da Cooperativa Mista da FlonaTapajós (Coomflona); Simael Andrade, da Cooperativa Mista Agroextrativista Nossa Senhora Perpétuo Socorro Rio Arimum (Coomnspra); e Maria Creusa, da Cooperativa Mista Floresta Sempre Viva Três Rios (Coomar).

Com o projeto Copaíba Sustentável na Amazônia, o Instituto Beraca trouxe o relato da safra de 2021/2022 no território, que chegou a, pelo menos, 1.500 toneladas de copaíba. “A gente considerou 3 litros de óleo por árvore, tem árvore que tem 20 litros, tem árvore que não tem nenhum, então fizemos uma média. A elaboração de mapas de exploração das áreas potenciais para manejo de copaíba, pode sim ser feita durante a safra da madeira”, compartilhou com os demais.

A Aspar tem encontrado desafios, mas acredita que a atividade pesqueira e a piscicultura podem e devem ser exploradas. “Mesmo escrito que gente de fora não pode pescar na Resex, ainda há problemas, o pescado daqui está abastecendo outros locais. O lago do Urubu, por exemplo, está sendo explorado os 12 meses do ano, o que não pode, por conta do defeso. A gente não consegue ter controle e a fiscalização não dá conta. A questão da política pesqueira foi deixada de lado, mas a gente entende e acredita que isso pode ser revertido, mesmo com toda a complexidade do ordenamento pesqueiro, a gente acredita que, com a união das comunidades, ainda é possível tentar criar caminhos junto aos novos governos para que nós consigamos”, Erisvaldo, da Aspar.

De Belterra, a Coomflona trouxe a sua experiência na Floresta Nacional (Flona) do Tapajós. Assim como na Resex Verde para Sempre, o foco tem sido a exploração madeireira, mas já há uma articulação pra fortalecer a exploração de outros produtos. “O ICMBio exige que tenha outras atividades além da exploração legal da madeira, então na Coomflona nós já trabalhamos andiroba, copaíba, castanha do pará, polpa de fruta, artesanato, outras. Com a pandemia esse trabalho deu uma queda, estamos tentando organizar de novo”, compartilhou Edinaldo Batista.

Segundo dia

Depois da visita ao passado e do convite às cadeias de produtos não madeireiros, as associações e cooperativas foram levadas para uma programação política. Na primeira mesa do dia, IEB, Conexsus, InterElos e Centro de Empreendedorismo da Amazônia falaram sobre iniciativas de articulação e fortalecimento institucional que vêm sendo implementadas no território.

Do IEB, Alison Castilho deu destaque para o trabalho do instituto no campo do fortalecimento da gestão. “Preparar as organizações para lidar com a gestão dessas cadeias não é trivial. As lideranças que estão à frente desse processo se capacitaram para gestar o desenvolvimento dessa agenda. Essas lideranças vão precisar saber lidar com a equipe técnica que vai estar à frente do trabalho no dia a dia, como o engenheiro [se referindo à cadeia da madeira], figura extremamente necessária. Se não o papel se inverte e o engenheiro passa a ser o gestor do plano, e isso não pode acontecer”, pontuou.

Alison Castilho (IEB), durante mesa que dialogou sobre o fortalecimento da articulação local

Aqui em Porto de Moz, a gente aposta muito na nossa parceria com o CDS para assessoria e desenvolvimento das organizações locais. Tem também o Grupo de Gestão Florestal, que integra a estrutura do CDS. Outra estratégia que a gente acredita muito é a atuação em rede, hoje temos aqui algumas das organizações que a gente historicamente desenvolve atividades e agendas, como a Embrapa e o IFT”, disse Castilho.

Na figura do Carlos Ramos, a Conexsus trouxe o desafio do entendimento bancário para assuntos relacionados ao que vem da floresta, relatando como foi o processo da parceria entre a instituição e o Banco da Amazônia que resultou em 270 Pronafs para Portel, no Marajó. Interlos, representado por Mariana Chaubet, apresentou os diagnósticos e planos de negócios criados para os produtos não madeireiros, enquanto a coordenadora de projetos do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, Manuele Lima, apresentou o Floresta 360, programa de estímulo ao empreendedorismo endereçado aos jovens.

A segunda e última mesa do dia 20 de janeiro foi o ponto alto do seminário, não porque as demais não tenham sido relevantes, mas porque juntou as discussões e organizou as pautas para o futuro. Foram reunidos representantes de diferentes setores da Resex e de órgãos governamentais, com ausências relevantes, segundo registros expressos dos participantes.

A mesa foi composta por Vedemilson Ribeiro, representante do setor de Acaraí; Elenilton Duarte, do Jaurucu; Acrísio Lacerda, do Guajará; Simael Andrade, do Arimum/Coomspra; Maria Creusa Ribeiro, da Coomar; Edilene Duarte, do CDS; Milton Kanashiro, representando a Embrapa e o OMFCF; Cleidimar “Chicuta” Barbosa, vereadora do PT em Porto de Moz; Flávia Ranara, do ICMBio; e o deputado federal pelo PT, Airton Faleiro. Se fizeram ausentes, segundo o CDS, os governos municipal e estadual.

Mesa “Construindo Pontes para a Resex que queremos no futuro”

Os comunitários foram convidados a expressar suas demandas. Incentivo para plantação, fomento para quem está iniciando, incidência de políticas públicas no território, acesso à saúde e à educação, mecanização, assistência técnica, regularização fundiária, e consolidação de uma Casa Familiar Rural (CAR) foram algumas das pautas apresentadas.

O manejo florestal tem um alto custo, o gargalo maior é na parte da mecanização. A maior receita é para a empresa terceirizada, que faz o arraste e transporte da tora, isso leva quase metade do recurso. Isso deveria ficar dentro das comunidades, se tivéssemos apoio para adquirir os materiais

Simael Batista, presidente da Coomnspra.

Nesse primeiro novo ano de governo já queremos ter a carta real de concessão de uso dessa unidade de conservação. Não podemos esperar isso para o último dia e nem esperar que o governo venha trazer para nós. Estamos para aqui cobrar e contribuir”, anunciou Maria Creusa, da Coomar, sob uma salva de palmas e gritos.

O governo tem que vir pra cá pra poder compreender a nossa realidade, a conjuntura local. Precisamos que o governo federal crie uma política pública de apoio ao manejo florestal comunitário em todas as etapas – não só quando a Autex já está na mão. A gente até ajuda a pagar, mas que ele coloque dinheiro e aposte na nossa forma de fazer o uso correto da floresta. Que aposte em todas essas pessoas para quem deu o um milhão de hectares para fazer a gestão”, continuou Maria Creusa.

Maria Creusa apresenta pautas durante o seminário Floresta para Sempre.

Após essas e outras manifestações, começou a fala dos órgãos governamentais e dos políticos que integravam a mesa. Entre outros temas, Kanashiro, da Embrapa, trouxe um dado que aponta o potencial da Resex Verde para Sempre. “Saiu a lista dos maiores produtores de madeira, o Brasil está em sétimo lugar e é o país único tropical. Nos demais países, as madeiras crescem lentamente – ciclo de 100 anos – o nosso ciclo é relativamente curto, de 30 anos”, pontuou Kanashiro.

A sociedade como um todo não consegue separar o que é um manejo florestal devidamente legal das madeiras do desmatamento. Isso faz parte de um processo de comunicação e as agências tem que esclarecer essa questão”, pontuou o pesquisador.

Se dirigindo ao deputado federal Airton Faleiro, a vereadora Chicuta pediu atenção à questão das multas aplicadas pelo ICMBio, que supostamente estaria igualando as famílias a grandes desmatadores; enquanto Flávia Ranara, servidora do ICMBio e gestora da Resex Verde para Sempre, destacou a necessidade de mais recursos para o órgão poder trabalhar. “Estamos num cenário em que os investidores vão retornar e o ICMBio precisa conseguir acompanhar”, enfatizou Ranara.

A servidora compartilhou ainda uma história de quando foi nomeada. “Chegaram para mim e falaram que eu estava indo à ‘Problemas para Sempre’. Agora, se eu encontrasse novamente a pessoa eu diria que eu cheguei na ‘Soluções para sempre’. Apesar de toda a dificuldade e dos retrocessos que a gente teve nos últimos anos, vocês resistiram. Nesses momentos a gente vê a importância da organização social e dos instrumentos de gestão. Vai ser retomada uma agenda, respeitando os ritos e a gente afirma o compromisso de estar ao lado das comunidades tradicionais”, finalizou Ranara sob palmas e gritos entusiasmados.

Último a falar, Airton Faleiro fez alertas e promessas. “Quando a ministra do Meio Ambiente, à época Marina Silva, veio a Porto de Moz para consolidar a criação da Resex, em 2005, eu estava junto, e em resposta a criação da maior reserva extrativista do Brasil, no mesmo dia, a Irmã Dorothy foi assassinada”, começou. “Quando começou a transição de governo a Amazônia estava ficando de fora, pessoas de fora queriam falar por nós. Fomos disputar espaço em cada grupo de trabalho. Conseguimos colocar muita gente e muitas propostas nesses grupos. Não é pouca coisa conseguir criar os espaços que nós criamos”, continuou o deputado.

Depois de falar da importância dos símbolos e dos novos ministérios, veio o primeiro conselho. “Eu conheço tudo aqui dentro e se a gente quiser fazer as coisas aqui, vamos fazer bem feito. O primeiro critério pra saber se a empresa presta é se ela quer corromper o comunitário. Se ela chegar e quiser corromper a turma pra baixar o preço da madeira, estamos falando de que economia? Não adianta cuidar só do meio ambiente, tem que cuidar do povo também. Nós estamos falando de sociobioeconomia. Não dá pra passar a mão na cabeça de quem quer fazer a coisa errada. Eu serei o primeiro a dizer não”, falou o deputado.

Outro conselho”, disse sob os olhos atentos da plateia. “Vai ganhar muita força o debate de produção de alimentos saudáveis. Na hora que essas 32 milhões de pessoas tiverem capacidade de comprar alimentos, é preciso ter como abastecer. No planejamento temos que pensar essa política de produção de alimentos saudáveis”, afirmou Faleiro.

Deputado federal Airton Faleiro (PT) durante encerramento do seminário Floresta para Sempre, em Porto de Moz (PA)

Em seguida, a promessa. “Uma das condições que nós colocamos ao Helder é que tivesse um posicionamento firme sobre a Amazônia, e que criasse a secretaria da agricultura familiar no Pará, já passou da hora de indicar esse nome e eu vou cobrá-lo. Nós temos que ter na Verde um programa que envolva o conjunto das necessidades da Resex, em todas as áreas, para que a gente monte uma agenda de pauta em Belém e em Brasília”, concluiu Faleiro.

Alegria também é resistência

No início e na pausa das programações, o microfone ecoava vozes de mulheres que entoavam músicas sobre a cultura local, além de melodias e letras que honravam a memória dos que vieram antes, como o Chico Mendes.

Grupo Folclórico Rio Xingu durante comemoração dos 18 anos da criação da Reserva Extrativista (Resex) Verde para Sempre

Ao final do primeiro dia, uma noite cultural marcou os 18 anos de criação da Resex Verde para Sempre, com jantar, bolo e apresentação do Grupo Folclórico Rio Xingu. O espetáculo foi feito especialmente pra data, com músicas e coreografias autorais. Fantasias ricamente adornadas, fogos e confetes deram um brilho maior à festa.

Apesar dos temas densos e das memórias duras, os homens e as mulheres extrativistas sorriam e se abraçavam, como quem renova as esperanças – e as forças – pros desafios vindouros.

O seminário Floresta para Sempre marca o encerramento do projeto Cadeias de Valor Sustentáveis, financiado pela Usaid e executado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e parceiros, com destaque para a atuação local do Comitê de Desenvolvimento Sustentável (CDS) de Porto de Moz.

O seminário contou com a parceria institucional da Conexsus, CredAmbiental, Instituto Beraca, Instituto Interelos, Ledtam/UFPA, Centro de Empreendedorismo da Amazônia e Embrapa.

Texto: Juliane Frazão/IEB

Grupo planeja o futuro da Verde para Sempre, uma das maiores Reservas Extrativistas do Brasil

Reunião do Grupo de Gestão Florestal (GGF) discutiu os rumos da exploração legal de produtos madeireiros e não madeireiros

“Voltar nos tempos da construção para ver onde a gente está hoje e se está como queríamos”, com essa frase Edilene Duarte da Silva, presidente do Comitê de Desenvolvimento Sustentável (CDS) de Porto de Moz, abriu o encontro do Grupo de Gestão Florestal (GGF), realizado no último dia 18, no município.

Constituído em 2016, o GGF é composto por representantes das associações e cooperativas detentoras dos Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) em execução na Reserva Extrativista (Resex) Verde para Sempre; de organizações de assessoria técnica e institucional; além do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão e fiscalização das atividades realizadas na Resex.

“Esse é um espaço legítimo das comunidades, em que elas fazem uma discussão clara, precisa e sólida pra construir o caminho para alcançar os objetivos que elas querem, que é continuar o protagonismo da luta da defesa do território e da geração da sua renda. É um espaço onde elas conseguem se enxergar e se avaliar”, pontua Edilene Silva, do CDS.

A valorização dos produtos não madeireiros foi uma das pautas da reunião. Durante a manhã, representantes das associações e cooperativas refletiram sobre como está sendo pensado o uso desse tipo de produto e quais são as principais dificuldades para a inserção deles na agenda produtiva das comunidades.

“Quando discutimos os planos, escrevemos que era de uso múltiplo. Temos uma cesta cheia de produtos que geram renda, mas estamos focados no produto grande, que é a madeira. Temos que resgatar essa cultura extrativista [dos produtos não madeireiros], a atividade madeireira não sustenta os 12 meses do ano. Precisamos corrigir isso nesse novo esperançar”, enfatiza Maria Creusa Ribeiro, presidente da Cooperativa Mista Floresta Sempre Viva Três Rios (Coomar), da comunidade Por Ti Meu Deus, da Resex Verde para Sempre.

Os grupos pactuaram estratégias como a realização de inventários específicos para cada produto não madeireiro, o arranjo do plano de manejo casado com a produção familiar, a diversificação da produção como forma de inserir mulheres nas atividades.

Durante a tarde, as comunidades se voltaram para a partilha dos modelos de comercialização utilizados na venda da madeira dos Planos de Manejo Florestal Comunitário Sustentável (PMFCS); para o mapeamento das instituições que fazem assessoria no processo de comercialização e para os desafios encontrados nesse processo.

Maria Creusa durante dinâmica proposta no encontro

Quando as madeireiras vão comprar, elas se articulam [em relação ao preço]. Momentos como esse seriam interessantes para vermos essa questão do preço, as associações têm que estar conectadas em relação a isso. Às vezes a gente ouve falar de preço de madeira que seria melhor deixar lá na floresta. Tá faltando diálogo para o fechamento da valoração desse produto”, alerta Maria Creusa.

Coordenador do Territorialidades, Florestas e Comunidades, programa do Instituto Internacional do Brasil (IEB) que congrega diversos projetos com agenda no território, Alison Castilho comenta as transformações que a Resex passou na última década.

“Nesses quase 10 anos que atuamos em Porto de Moz, em parceria com as organizações que atuam no Manejo Florestal Comunitário e Familiar (MFCF), focamos, principalmente, na agenda de fortalecimento dos aspectos de gestão das organizações locais, e o GGF é resultado desse amadurecimento institucional, pois representa um espaço de planejamento, acompanhamento e gestão da produção sustentável da madeira legal advinda dos planos de manejo, ainda precisa fortalecer a agenda de comercialização coletiva, que deve ser o próximo passo dessa organização coletiva, mas esse espaço para troca de experiências é fundamental para a sustentabilidade da atividade de manejo com o protagonismo comunitário”, pondera.

Alison Castilho – IEB

Denúncia

Comunitários se manifestaram sobre o assédio que algumas empresas madeireiras têm exercido no território, bancando a formalização de novas associações ou cooperativas em troca de contratos que ofereçam preços mais baixos pela madeira, garantindo, inclusive, a comercialização de madeira em pé.

Um dos representantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão federal responsável pela gestão da Resex, Carlos Eduardo Nascimento alertou para a importância da formalização das denúncias. O servidor do ICMBio pontuou também o momento de reconstrução que o órgão  e as políticas ambientais estão passando, e esclareceu as principais dúvidas sobre os PMFCS.

O encontro contou com representantes das Associações Comunitária Agroextrativista do Rio Curuminim; Comunitária de Belém (ACBEM); de Desenvolvimento Sustentável dos Criadores, Agricultores, Piscicultores e Pequenos Madeireiros da Comunidade do Ipanela; Comunitária Deus Proverá (ACDP); Comunitária de Desenvolvimento Sustentável da Comunidade do Juçara (ACDSCJ); Comunitária São Benedito do Ynumbi (ASCOBY); de Desenvolvimento Agroextrativista do Baixo Acarai (Adaba); de Desenvolvimento Sustentável dos Produtores Agroextrativistas da Comunidade Itapéua; do Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz (CDS); das Cooperativas dos Produtores Agroextrativistas do Médio Rio Jaurucu (COOPAMJ); Mista Agroextrativista Floresta Viva Três Rios (Coomar); Mista Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do Rio Arimum (Coomnspra); de assessorias técnicas e institucionais como o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB); o Instituto Beraca; a Unifloresta, e de órgãos governamentais, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Encontro de coletivos estimula o empoderamento de mulheres agroextrativistas

Realizado em dezembro de 2022, no Amapá, o evento promoveu o diálogo de diversas lideranças femininas que desenvolvem trabalhos sustentáveis em seus territórios. 

Autor: Catarina Barbosa | IEB

A palavra é empoderamento. Foi com esse mote que mulheres de diversos coletivos se reuniram no 1º encontro de coletivos de mulheres agroextrativistas do Amapá. Apesar de focar em lideranças do território amapaense, mulheres do Pará também participaram e compartilharam experiências acerca do desenvolvimento de atividades sustentáveis nas quais a figura feminina assume protagonismo.

Com o objetivo de promover a troca de experiências e de gerar uma articulação em torno de uma agenda comum para a inclusão socioprodutiva, o evento foi pensado como uma primeira etapa de mobilização e de caracterização de iniciativas para a criação de uma articulação em  rede para mulheres visando o fortalecimento desses grupos nas dimensões socioeconômica e ambiental.

No total, 35 pessoas de 21 organizações dividiram suas experiências, entre elas, a agroextrativista, Cristiana Braga, 37 anos, secretária da Associação da Comunidade São Benedito do Inumbi, que integra a Associação de Mulheres do Campo e da Cidade (Emanuela), em Porto de Moz, no Pará.

Cristiana trabalha com o manejo florestal sustentável da madeira e além do cargo de secretária da Associação da Comunidade São Benedito do Inumbi, onde mora, ela também é manejadora. “Eu faço a medição das árvores que serão colhidas dentro do projeto de manejo sustentável”, explica.

Mãe de dois filhos, Cristiana diz que o maior objetivo da associação é empoderar as mulheres. “Além do manejo começamos a trabalhar com cipó, fazemos mesas e cadeiras do material e estamos no processo de qualificação para que outras mulheres também aprendam o ofício”, explica.

“Ter contato com outros coletivos nos enche de reflexões, um dos pontos que percebemos é que temos dificuldade de divulgar os nossos produtos, mas agora pensamos em fazer eles chegarem a mais pessoas, por meio da nossa cooperativa”, afirma.

Convidada a participar do evento no Amapá, Cristiana Braga disse ainda que é muito bom poder dividir experiências do dia a dia com outras mulheres. “Fiquei encantada com as mulheres, desde as que trabalham com argila até as que têm uma cozinha própria. Gostei tanto da Cozinha Coletiva do Beira Amazonas, que estamos pensando em viabilizar uma em Porto de Moz”, diz ela.

Para Gerciane Borges, 32 anos, coordenadora da Cozinha Coletiva do Beira Amazonas e moradora da comunidade São Tomé do Macacoari, no Amapá, todas as oficinas, reuniões, rodas de conversa promovem grandes aprendizados. “É muito bom ver mulheres como presidentes de associação, coordenadoras, secretárias, todas compartilhando dificuldades e também acertos. Foi bom também ver o depoimento de uma companheira que tinha desistido, mas que retornou para a associação dela. Isso nos mostra que todas temos dificuldades, mas que juntas é possível superá-las”, diz.

Gerciane disse que além da troca de experiências, uma palestra chamou muito a sua atenção. “Eu ouvi que lugar de mulher não é só dentro de casa, que a gente precisa se libertar e ter cuidado com a gente. Significou muito pra mim”, disse.

A agroextrativista também dá destaque para as mulheres que trabalham com a extração do óleo de pracaxi, na comunidade Comunidade do Limão do Curuá, no arquipélago do Bailique, no Amapá. “São mulheres que estão muito à frente no trabalho. Elas, inclusive, já vendem o óleo de pracaxi para outros estados. A maneira que elas trabalham é muito bonita de ver. Inspiradora. Elas pegam o que a natureza dá para poder tirar o sustento delas”, afirma.

Sobre os primeiros passos da rede, Gerciane afirma que no que depender dela, a rede já está formada. “Eu mesma já fiz amizade depois desse encontro e acho que todos só temos a ganhar ao fortalecer essas e outras mulheres da região”.

Waldiléia Rendeiro, Analista Socioambiental do IEB e coordenadora de ações de gênero e sustentabilidade  do Programa Territorialidades, Florestas e Comunidades do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) explica que a construção de redes tem sido uma estratégia interessante para dar maior visibilidade ao trabalho dos grupos de mulheres, fortalecer a capacidade e produção  desses coletivos A partir dessa primeira edição outras iniciativas serão desenvolvidas “Ficamos satisfeitos com o resultado dessa primeira articulação, com base nesses resultados implantaremos as próximas etapas a fim de fortalecer as iniciativas dessas mulheres”.

Resex Verde Para Sempre: 18 anos de resistência da maior reserva extrativista do Brasil

Com pouco mais de 1,3 milhão de hectares, a Reserva ocupa 82% do território de Porto de Moz, no Pará, e é formada por 37 comunidades, onde vivem cerca de 13.000 pessoas.

Autor: Catarina Barbosa | IEB

“Lembro como se fosse hoje. Era uma época muito difícil, as nossas comunidades eram dominadas e ameaçadas por empresas madeireiras. A força delas era tão grande que a gente não conseguia transitar no território”. O relato de Edilene da Silva, presidente do Comitê de Desenvolvimento Sustentável (CDS) de Porto de Moz, no Pará, é de uma época complicada para quem nasceu dentro do território que hoje é conhecido como a Resex Verde Para Sempre.

Edilene relembra o passado a fim de explicar a importância da Resex Verde para Sempre para os moradores. O território de 1,3 milhão de hectares é considerado a maior Unidade de Conservação (UC) de Uso Sustentável do país, o equivalente a oito vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Nesse espaço, atualmente, os moradores da própria comunidade são os protagonistas de negócios sustentáveis que priorizam, antes de tudo, a vida das pessoas e de todos os seres que vivem na floresta.

Em 2022, a Resex completou 18 anos e a presidente do CDS conta que as vitórias são indiscutíveis, apesar de ainda haver muito o que avançar. “Sem dúvida não queremos mais passar pelo que passamos. Imagine você querer colher uma castanha, um cipó e não poder, e o pior: não poder andar dentro da floresta onde nasceu, por ter medo de ser assassinado por um pistoleiro das empresas madeireiras, não queremos mais viver isso, mas ainda precisamos  legalizar vários direitos para os moradores da resex, e vamos”, acrescenta Edilene.

Fundada em 2004, no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o território nasceu em resposta à opressão que as comunidades tradicionais vivenciavam. “Era impossível viver daquela forma, foi com a ajuda da comunidade e também em um grande ato articulado com o pessoal do Greenpeace, quando paralisamos o rio, que finalmente fomos ouvido”.

O ato citado por Edilene ocorreu em 2003, um ano antes da criação da reserva, mas repercutiu nacional e internacionalmente. A madeira, produto amplamente consumido dentro e fora do Brasil não tinha, até então, nenhum tipo de regulamentação. Assim, empresas atuavam explorando de forma desenfreada o recurso natural.

Atualmente, a madeira extraída da resex obedece ao chamado “plano de manejo”, uma articulação minuciosa que envolve o conhecimento das comunidades tradicionais e o de cientistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do Instituto Floresta Tropical (IFT) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). “Antes, as empresas madeireiras dominavam o território e faziam a derrubada de maneira desenfreada e explorando a mão de obra das comunidades tradicionais. Hoje, lutamos para que esse processo continue nas mãos da comunidade”, reforça a presidente.

Entre os anos de 2017 e 2019, as atividades madeireiras geraram cerca de R$ 6 milhões sem esgotar a floresta e valorizando as comunidades tradicionais.

Avançando

Amparados pelo decreto que deu origem à Resex Verde para Sempre, agora as lutas são no sentido de manter as conquistas e avançar por mais direitos e também a fim de aprimorar a maior atividade do território, o manejo florestal e comunitário da madeira e incluir outras. “Estamos dialogando sobre a cadeia produtiva do óleo de copaíba e outras, quanto mais atividades tivermos, melhor para as comunidades”, acrescenta Edilene, que afirma que o diálogo sobre a nova atividade já está bastante avançado.

Em outro sentido, um dos desafios a serem superados segundo a presidente do CDS é com relação a fragilidade jurídica do decreto que deu origem ao território. “Precisamos avançar para conquistar o Contrato de Concessão de Direito Real de Uso (CCDRU), documento que não temos e que garante uma segurança jurídica para todo o território”, pontua.

O CCDRU é um documento que consolida a regularização fundiária em unidades de conservação das categorias Reserva Extrativista e Reservas de Desenvolvimento Sustentável, assim como nas Florestas Nacionais com populações tradicionais identificadas, por meio dele são estabelecidos direitos e deveres relacionados ao desafio de se promover o desenvolvimento socioambiental de comunidades identificadas como parceiras na missão de se conservar a biodiversidade.

A presidente do CDS, Edilene da Silva, conta que durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) a reserva sofreu uma grande ameaça com o projeto “Adote um Parque”, que permitiria, entre outras coisas, o custeio da conservação dos parques nacionais por empresas nacionais ou estrangeiras, e também indivíduos.

Com a pressão dos movimentos sociais e de instituições ligadas à proteção da Resex, o plano não saiu do papel por ferir a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, que prevê às populações tradicionais o direito à consulta prévia, de forma livre e informada, antes de serem tomadas decisões que possam afetar seus bens e direitos. “Foi uma época de muita aflição e penso que o CCDRU nos daria segurança em situações como a do Adote um Parque, na qual todos fomos pegos de surpresa”.

A união 

A coletividade é algo inerente ao trabalho desenvolvido dentro da Resex Verde Para Sempre e o surgimento do Comitê de Desenvolvimento Sustentável (CDS), apenas consolida essa união, uma vez que concentra diversas organizações da pesca, trabalhadores rurais, comunidades de base, da igreja, além de cooperativas e associações. Todas pessoas precisam da floresta para manter seus modos de vida.

Erisvaldo Barbosa, vice-coordenador do CDS, também é presidente da Associação de Pescadores artesanais de Porto De Moz conta que começou a pescar com o pai aos 12 anos de idade e que a vida dele se mistura com a vida que pulsa na Resex Verde Para Sempre. “Eu lembro de pescar desde sempre. Eu pescava, estudava e vendia o peixe. Em casa, a gente tinha uma roça para fazer uma farinha e outras coisas, mas mais para o nosso sustento. Foi através do trabalho da pesca que entrei no movimento social da colônia de pescadores. Em seguida, fui o primeiro presidente e juntos conseguimos desenvolver a organização dos pescadores de Pesqueira”, lembra ele.

Os processos de decisão são sempre fruto de muito diálogo e Erisvaldo é um dos defensores da necessidade de se conquistar o Contrato de Concessão de Direito Real de Uso (CCDRU). “Esperamos com o novo governo avançar nessa conquista. Estamos otimistas, mas também atentos ao que precisa ser conquistado para garantirmos mais tranquilidade para os moradores da resex”

Publicação da Embrapa aborda monitoramento florestal na Amazônia

O documento concentra o avanço das pesquisas e formação de redes nacionais e internacionais, assim como a evolução do aplicativo computacional Monitoramento de Florestas Tropicais. 

Autor: Izabel Drulla Brandão | Embrapa Amazônia Oriental

Pioneira no uso de parcelas permanentes em inventário florestal contínuo no estudo do comportamento de árvores em florestas exploradas e não exploradas na Amazônia brasileira, a Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA) disponibiliza a publicação Monitoramento florestal na Amazônia Oriental: histórico e importância da ferramenta para estudo da dinâmica florestal. É uma obra compacta, de apenas 40 páginas, mas o conteúdo tem peso duplo.

Por um lado, o documento situa o avanço das pesquisas e a formação de redes nacionais e internacionais em torno do tema, além de listar os 121 títulos técnico-científicos anteriores, gerados de 1984 a 2021 com base nos dados do monitoramento de parcelas permanentes pela Embrapa Amazônia Oriental e pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).

Por outro lado, de olho no futuro, a nova publicação destaca a importância da continuidade e evolução do aplicativo computacional Monitoramento de Florestas Tropicais (MFT), ferramenta cujo uso é considerado “a melhor garantia de armazenamento de dados de longos e contínuos períodos de monitoramento em florestas naturais e plantadas”, avalia o autor Ademir Roberto Ruschel, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental.

É uma garantia, explica Ruschel, amparada na confiabilidade do próprio banco de dados de parcelas permanentes monitoradas pela Embrapa Amazônia Oriental há quatro décadas, desde 1981, acervo que já foi fonte de inúmeras dissertações de mestrado e teses de doutorado, bem como artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais. “Não à toa, os dados serviram de base para a regulamentação do manejo florestal sustentável na Amazônia brasileira, em especial a definição dos ciclos e intensidades de corte”, salienta.

Florestas do passado, do presente e do futuro

O autor enfatiza que “as parcelas permanentes de monitoramento contínuo são fontes ricas e precisas de informações das florestas do passado, do presente e do futuro, quando amostradas suficientemente e mantidas ao longo do tempo”. Ele conta que “as parcelas mais antigas de observação têm proporcionado conhecimento profundo sobre a dinâmica do crescimento da floresta, balanço de carbono no ecossistema e alterações na riqueza e diversidade de espécies de árvores e de palmeiras”. Além disso, globalmente ajudam a estimar os efeitos das mudanças climáticas e o ciclo de carbono.

A importância mundial do trabalho de monitoramento florestal contínuo com parcelas permanentes também é ressaltada na apresentação da publicação pelo chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Walkymário de Paulo Lemos, onde diz ser “uma importante contribuição para o atendimento da agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em especial ao ODS 15 – Vida Terrestre. Entende-se que, ao se compreender melhor o comportamento das espécies florestais em áreas manejadas na Amazônia, torna-se possível definir a melhor estratégia de manejo a ser adotada e garantir a sustentabilidade do uso dos recursos com benefícios sociais, econômicos e ambientais”.

Aplicativo MFT

O MFT, aplicativo (software) para monitoramento de florestas tropicais, sucedeu o antigo programa informatizado Sistema de Inventário Florestal Contínuo (SFC), lançados pela Embrapa Amazônia Oriental em 2008 e 1994, respectivamente. Capaz de lidar com um grande volume de informação oriunda de floresta de alta complexidade, o MFT registra, processa, critica e armazena dados de monitoramento por classe de tamanho de indivíduos (palmeiras, árvores, arvoretas, varas e mudas). Sua aplicação está ligada ao estudo, manejo e monitoramento de florestas tropicais, processando inventários florestais temporários e contínuos.

“Estamos no ponto em que o MFT caminha para uma nova versão, robusta para processar e manter um banco seguro de dados de parcelas permanentes, ao mesmo tempo em que permite a evolução constante de novas versões”, antecipa o pesquisador Ademir Ruschel.

Milhões de registros

O monitoramento pela Embrapa ocorre em ecossistemas de terra firme e de várzea, em florestas naturais e plantadas. Somente por conta das parcelas permanentes de terra firme no estado do Pará, conforme dados da publicação, já são mais de 125 mil árvores observadas nos últimos 40 anos, com mais de 8 milhões de registros de variáveis armazenados em arquivos de backups do MFT.

Há parcelas de terra firme na Floresta Nacional do Tapajós (Belterra); PA Santo Antônio (Mojuí dos Campos); Vitória do Jari, Associação Virola-Jatobá (Anapu), Parque Zoobotânico (Marabá), Fazenda Cristalina (São Domingos do Araguaia), Fazenda Shet (Dom Eliseu), Fazenda Cikel (Paragominas); Campo Experimental da Embrapa (Moju) e Capoeira do Black (sede da Embrapa em Belém). As parcelas de várzea ficam em Belém (Área de Pesquisa Ecológica do Guamá), Limoeiro do Ajuru, Curralinho, Breves, Afuá e Gurupá.

Avanço do conhecimento e redes

De acordo com Ademir Ruschel, a robustez e complexidade dos bancos de dados de parcelas permanentes gerenciados pela Embrapa e Ufopa permitiram o avanço do conhecimento sobre a dinâmica da vegetação arbórea – estudo que envolve informações sobre o crescimento e a evolução da floresta, sua reação a alterações diretas ou indiretas resultantes, por exemplo, de sistemas de manejo, mudanças climáticas, tratamentos culturais e silviculturais.

O pesquisador relata que o primeiro documento com as orientações para instalação e medição de parcelas permanentes de monitoramento em inventário florestal contínuo na Amazônia brasileira foi publicado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em 1984. A metodologia inicial teve posteriores atualizações, tornando-se mais prática aos empreendimentos florestais na região amazônica e às instituições de pesquisa.

Em paralelo, redes nacionais e internacionais, governamentais e não governamentais, se formaram em torno do tema manejo florestal sustentável na Amazônia, fortalecendo a cooperação científica, como a Rede de Monitoramento da Dinâmica de Florestas da Amazônia (Redeflor), a Amazon Tree Diversity Network (ATDN), a Rede Amazônica de Inventários Florestais (Rainfor) e o Tropical managed Forests Observatory (TmFO).

A publicação Monitoramento florestal na Amazônia Oriental: histórico e importância da ferramenta para estudo da dinâmica florestal (acesse aqui) foi escrita pelo pesquisador Ademir Roberto Ruschel em coautoria com Ulisses Sidnei da Conceição Silva (Ufopa), Fabricio Nascimento Ferreira (Embrapa), Lia de Oliveira Melo (Ufopa), José Natalino Macedo Silva (Ufra), João Olegário Pereira de Carvalho (Ufra), Márcio Hofmann Mota Soares (Embrapa), José Francisco Pereira (Embrapa), Lucas José Mazzei de Freitas (Embrapa) e Milton Kanashiro (Embrapa).

 

Produção audiovisual mostra a visão das crianças sobre a floresta

O vídeo tem versões em português, português com legendas em inglês e português para libras e além da visão das crianças foram registrados os trabalhos dos atores envolvidos no manejo florestal comunitário. 

Autor: Ana Laura Lima | Embrapa Amazônia Oriental

Como as crianças enxergam a floresta? Foi essa pergunta que o vídeo  “Crianças, Florestas e Poesia” buscou responder. O resultado deu origem a uma produção audiovisual de pouco mais de cinco minutos onde é possível ver não apenas a relação das crianças com o território, mas também o trabalho dos atores envolvidos para que a preservação e a prática do manejo florestal comunitário sejam continuadas a fim de manter a floresta em pé.

Elaborado como parte do Projeto Bom Manejo 2, coordenado pela Embrapa Amazônia Oriental, membro do Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF), e pela Organização Internacional de Madeiras Tropicais – ITTO (International Tropical Timber Organization), o vídeo é resultado de uma oficina realizada com crianças da Reserva Extrativista Verde Para Sempre, localizada em Porto de Moz, no Pará, no mês de setembro.

Nas versões em português, português com legendas em inglês e português para libras, a finalidade do vídeo, segundo o pesquisador Milton Kanashiro, coordenador do projeto Bom Manejo 2 e presidente do Portfólio Florestal da Embrapa, é visibilizar diferentes abordagens do fazer científico em comunidades por meio de novas linguagens e também fortalecer o conceito de Saúde Única, que traz uma visão holística e integrada da saúde humana, animal, das plantas e da floresta.

Saúde Única: abordagem integrada

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o conceito de Saúde Única envolve uma visão holística e abordagem integrada, colaborativa e transdisciplinar que visa equilibrar a saúde das pessoas, animais, das plantas e da floresta nos níveis local, regional, nacional e global. O Plano de Ação Conjunta para a Saúde Única 2022-2026 – ONU apresenta o conceito e reconhece a interconexão e interdependência entre a saúde humana, animal e dos ecossistemas.

Para Milton Kanashiro, é imprescindível uma visão holística e integrada em relação à saúde, especialmente no contexto de questões globais, como a pandemia de Covid-19, insegurança alimentar, degradação ambiental e perda de biodiversidade. Ele ressalta ainda que a abordagem se alinha ao alcance das metas propostas na Agenda 2023 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

“Para a Amazônia e o Brasil, essa abordagem integrada e transversal ganha maior importância ainda para a saúde global”, afirma. O pesquisador ressalta que o conceito envolve sistemas de pensamento e abordagens, parcerias público privadas, governança, marcos legais e institucionais, além do conhecimento dos povos e das populações tradicionais, em acordo ao que foi estabelecido no plano de ação conjunta da Organização das Nações Unidas.

“Pessoalmente, entendo que a Embrapa é muito importante nesta tarefa hercúlea, pois tem expertises, nas mais diferentes áreas do conhecimento que a Saúde Única preconiza”, analisa o pesquisador.  Ele acrescenta ainda que instituições, como a Fiocruz, foram pioneiras na disseminação e fortalecimento desse conceito no Brasil.

Assista ao vídeo em português: https://youtu.be/wPl3PhH9n3o

Versão em português com legendas em inglês: https://youtu.be/MaU9LIvZZpc

Versão em português para libras: https://youtu.be/9kB-jJ2digY

Artigo destaca protagonismo das mulheres no manejo florestal comunitário na Resex Verde para Sempre

Em um artigo publicado no Vol. 11, Nº. 12, 2022 da  Revista Caribeña de Ciencias Sociales (RCCS), Bruno Cavalcante e Silvana Souza identificam alguns dos fatores que influenciam na participação e no protagonismo das mulheres na organização do Manejo Florestal Comunitário (MFC), mais especificamente na comunidade Nossa Senhora do Perpetuo Socorro do Rio Arimum, na Reserva Extrativista (Resex) Verde Para Sempre, situada no Município de Porto de Moz – PA.

Da organização comunitária ao romaneio, por meio de questionários semiestruturados e pesquisas bibliográficas, os autores fizeram um mapeamento das principais atividades desempenhadas pelas mulheres da Resex. Confira a íntegra do texto: https://ojs.southfloridapublishing.com/ojs/index.php/rccs/article/view/2110/1643

 

Manejo florestal familiar e comunitário é pauta em evento técnico-científico

Evento foi realizado na capital do estado do Pará, com foco em iniciativas e pesquisas na área ambiental 

A centralidade da comunidade na construção e implementação de planos de manejo comunitário e as constantes pressões que esse modelo vem sofrendo no território amazônico foram algumas das pautas levantadas na mesa “Povos e comunidades tradicionais da floresta”, promovida pelo Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF) durante o Floresta Pará 2022, evento realizado pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio), no último dia 09.

A mesa redonda contou com a participação de duas iniciativas que integram o OMFCF, a Rede Bragantina de Economia Solidária Artes & Sabores, representada por Nazaré Reis; e o Comitê de Desenvolvimento Sustentável (CDS) de Porto de Moz, representado por Edilene Silva. A mediação foi de Alison Castilho, do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), organização com forte atuação em fortalecimento de redes, entre elas o OMFCF, na qual atua como secretaria executiva.

Coordenadora do CDS, Edilene Silva compartilhou o histórico do Comitê, relembrando também a trajetória do desenvolvimento do manejo florestal comunitário na Reserva Extrativista (Resex) Verde para Sempre. “Tivemos o apoio de vários parceiros, até chegar na construção, no protocolo e na aprovação dos planos de manejo florestal comunitário. É muito importante a comunidade entender esse processo de construção do manejo, sobretudo as etapas dele”, afirmou.

Um dos recursos utilizados por Edilene para contar a história do CDS e do manejo na Resex foi a apresentação de uma linha do tempo, com marcos de 2004 a 2022. De acordo com o gráfico, a partir da implementação do manejo florestal comunitário, o preço médio de venda da madeira saltou de R$ 183,00 – registrado em 2008 – para R$ 300,00/m³, em 2021.

“Aqui fazemos o manejo de uso múltiplo, potencializando os produtos da floresta, com foco na madeira, mas sem perder de vista os demais. As comunidades já registram grandes melhorias a partir da implementação dos planos”, destacou.

Representante da Rede Bragantina, Nazaré Reis fez uma reflexão sobre economia solidária, tomando a trajetória da rede como base, com foco nos eixos educação, saúde, comercialização e políticas públicas. 

O coletivo reúne iniciativas dos municípios de Santa Luzia do Pará, Bragança, Augusto Corrêa, Capitão Poço, Cachoeira do Piriá, Viseu, Irituia, Acará, Santo Antônio do Tauá, São Domingos do Capim e Boa Vista do Gurupi (MA). Em sua fala, Nazaré destacou a relevância do saber tradicional.   

“A dinâmica da sustentabilidade tem que ser transdisciplinar, isso não se concretiza só com ações técnicas e científicas. O saber tradicional deve ser valorizado, o desenvolvimento não ocorre só no setor privado, público ou nas instituições, deve ser feito por parcerias e com as comunidades”, enfatizou Nazaré.

Denúncias e desafios

Em Porto de Moz, o CDS alertou sobre as diferentes pressões que o território vem sofrendo. Segundo Edilene, há dois modelos de manejo florestal em disputa: um construído ao longo dos anos com ampla mobilização e engajamento das lideranças comunitárias; e outro elaborado por madeireiras que “se aproveitaram das fragilidades instaladas”.  

A Resex Verde para Sempre é a maior reserva extrativista do Brasil, ela conta com 13 planos de manejo aprovados e isso representa 65% de todos os planos de manejo aprovados em território nacional.

“Na pandemia, enquanto as assessorias que transitam por Porto de Moz ficaram em casa para resguardar os comunitários, vinte novos planos de manejo foram elaborados para a Resex, sem o envolvimento de quem mora no território. Para que os planos ocorram, eles precisam ser executados a partir do protagonismo das organizações locais, quando há o acirramento dessa disputa, as empresas madeireiras ganham protagonismo nesse processo, normatizando a exploração predatória”, alertou Alison Castilho.

Nazaré destacou a importância da Política Estadual de Agroecologia, Produção Orgânica e da Sociobiodiversidade (Peapos), construída com ampla participação da sociedade civil, mas ainda não implementada pelo Governo do Estado. “Lamentável o estado do Pará ser abastecido por outras regiões [em relação ao setor hortifrutigranjeiro], quando o nordeste paraense tem ambiente propício para a fruticultura”, pontuou.

Organizações endereçam carta à campanha de Helder Barbalho

Documento do Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF) pede que candidato considere a proposta da política estadual de Manejo Florestal Comunitário e Familiar, criada a partir de um amplo processo de articulação iniciado em 2012. 

Assinada pela coordenação executiva do OMFCF, a carta relembra o processo de sistematização das demandas e propostas das mais de mil pessoas mobilizadas durante a construção da proposta, envolvendo ONGs, universidades, instituições de pesquisa, organizações de base e movimentos Sociais e setores de órgãos governamentais.

O documento também relembra as contribuições e recomendações para o aperfeiçoamento do Plano Estadual Amazônia Agora (PEAA), feitas por representantes da sociedade civil e academia no ano de 2021. O grupo apontou a proposição de metas concretas e a instituição de instâncias de governança para o reforço de medidas de incentivo a diferentes setores da economia que valorizam a floresta em pé. 

A exemplo da criação de mecanismos de desoneração e subsídio aos produtos da bioeconomia; auxílio aos municípios na execução de normas relacionadas à compra de produtos da agroecologia; criação de estruturas de beneficiamento dos produtos da agroecologia; aprovação da Política Estadual de Agroecologia, Produção Orgânica e de Produtos da Sociobiodiversidade e da Política Estadual do Manejo Florestal Comunitário; entre outros.

Clique aqui para conferir a íntegra da carta.

Sobre o observatório

O Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF) articula diversas organizações da sociedade civil, institutos de ensino, pesquisa e comunidades, com a missão de promover o manejo florestal como uma estratégia relevante, consistente e viável para a sustentabilidade da Amazônia.

Nesse sentido, busca contribuir para a valorização e a garantia dos direitos e dos modos de vida de agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais, além da construção de um modelo de desenvolvimento ambientalmente sustentável e socialmente justo para a região.

 

Observatório publica segundo boletim do Manejo Florestal Comunitário

Iniciativas que auxiliam no fortalecimento do manejo florestal comunitário ganham visibilidade na segunda edição do boletim do Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF). Referente ao período de abril a agosto deste ano, a edição número #02 reúne quatro matérias que destacam ações de instituições que compõem a rede do Observatório.

Elaborada a partir da parceria entre assessorias de comunicação de organizações ligadas ao Observatório, a publicação apresenta as cadeias da sociobiodiversidade como tema central e apresenta duas dicas dicas de leituras.  

A iniciativa integra a estratégia de destaque da agenda do manejo comunitário, ao contar sobre algumas práticas realizadas por povos e comunidades tradicionais da Amazônia, baseadas em formas inovadoras e diferenciadas de se relacionar com as florestas e os recursos ambientais.

Catálogo Um catálogo de árvores nativas auxilia as comunidades a fazer manejo florestal sustentável. Iniciativa da Embrapa, o documento catalogou 56 espécies nativas arbóreas comerciais para apoiar comunidades e técnicos que atuam no Manejo Florestal Comunitário na Amazônia.

Cooperação Um trabalho apresentado no Congresso Florestal Mundial em Seul, na Coreia do Sul, marcou a cooperação interinstitucional e interdisciplinar entre membros do Observatório. Pesquisadores apresentaram as etapas da experiência de cooperação realizada na Resex Verde para Sempre, território que abrange quatro municípios do estado do Pará: Brasil Novo, Gurupá, Porto de Moz e Prainha.

Práticas de manejo Nas Unidades de Conservação (UCs) do Marajó, cursos de capacitação fortalecem o manejo florestal comunitário. Na matéria, é possível acompanhar a atuação do Instituto Floresta Tropical (IFT) na implementação de modelos de manejo florestal comunitário de madeira e açaí. Desde 2018, o instituto realiza iniciativas nas Resex Mapuá e Arióca Pruanã, pertencentes à região de integração do Marajó.

Seminário Em Belém, um seminário reuniu manejadores de toda a Amazônia Legal com o propósito de fortalecer esse modelo de desenvolvimento que é ambientalmente sustentável, socialmente justo e economicamente viável. O evento também marcou o encerramento do FORMAR Gestão, programa que busca por meio de oficinas e atividades, qualificar e empoderar os atores sociais para tomadas de decisão.

A ideia foi capacitar os manejadores para que eles tenham autonomia de acessar e gerenciar recursos oriundos de projetos de financiamento e melhorar as relações econômicas na gestão dos empreendimentos, sempre estimulando a adoção de boas práticas de manejo dos produtos e da organização comunitária. 

Dicas de leitura — Na segunda edição, o boletim destaca o estudo “Bioeconomia da sociobiodiversidade no estado do Pará”, com análises socioeconômicas inéditas sobre os impactos das cadeias produtivas da sociobiodiversidade no estado, assim como
os desafios e as recomendações para que o desenvolvimento da sociobioeconomia no Pará se dê de forma exitosa e justa, beneficiando todos os elos das cadeias produtivas e sem prejuízos ao meio ambiente ou aos povos tradicionais.

E também o segundo volume do livro “Receitas da culinária agroextrativista”, elaborado por mulheres integrantes da Cozinha Coletiva do Beira Amazonas, com a parceria do IEB e de outras instituições. Os ingredientes são produtos locais, muitos deles coletados e cultivados pelas próprias famílias agroextrativistas, como o açaí, a pupunha, o camarão, a macaxeira, a castanha, a farinha de mandioca e a banana. Além de receitas deliciosas, o livro conta um pouco do histórico da organização da cozinha e como o grupo é organizado.

Acesse

A versão completa do 2º Boletim do Observatório do Manejo Florestal Comunitário está disponível em PDF, na versão para telas de computadores: https://bit.ly/boletimMFCF-2

A versão para telas de smartphones está disponível em: https://bit.ly/boletim-MFCF-celular

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