Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar reúne com comitiva colombiana para debater iniciativas do setor

Países da América Latina estreitam o debate sobre o manejo com o objetivo de trilhar caminhos mais sólidos para a atividade.

O manejo florestal comunitário e familiar foi o centro do debate entre membros do Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF) e uma comitiva composta por vinte membros da Colômbia. O encontro articulado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) foi realizado na tarde desta terça-feira (12), no auditório do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), em Belém do Pará. 

Além de membros do OMFCF estiveram presentes representantes do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio) e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e também organizações do terceiro setor colombiano. A comitiva seguirá em diálogo nos próximos dias com instituições públicas, organizações não-governamentais (ONGs) e cooperativas florestais a fim de conhecer iniciativas, tecnologias e políticas públicas relacionadas ao manejo.

Para a coordenadora do projeto Mi Cacao – um projeto regional da Colômbia com o Peru –, da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), Suzete Moreira, o debate reforça o compromisso entre os países latino americanos acerca da construção de uma agenda comum de sustentabilidade com base no manejo. “O que a gente pretende é trocar experiências e temos muito para aprender com o Brasil. O país está avançado no que diz respeito ao manejo florestal comunitário e familiar e a Colômbia quer saber mais sobre isso”, resume. 

Moreira afirma que a Colômbia desenvolve o manejo, mas não em um nível articulado de comunidade como o Brasil. O país também não tem uma estrutura de governança como o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e está retomando o debate acerca da concessão florestal. 

“Acredito também que é uma oportunidade de pensarmos no processo de legalização da madeira. Na Colômbia temos o Projeto ProBosques, que busca melhorar o manejo florestal sustentável na Amazônia colombiana e cujo um dos pilares é a legalização da madeira”, resume. 

A importância de manter a floresta em pé 

Para o coordenador executivo do IEB, Manuel Amaral, apresentar os resultados e também os desafios de desenvolver o manejo florestal e comunitário madeireiro e não madeireiro é uma forma de contribuir ativamente na resposta contra a crise climática. “Esses encontros nos fazem perceber com mais veemência que estamos no caminho certo, desenvolvendo e estimulando uma atividade que combate diretamente a crise climática. O caminho para evitar o tipping point sem dúvida está no manejo”. 

O tipping point ou ponto de não retorno é um termo usado por cientistas para se referir ao ponto em que a floresta perderá a sua capacidade de se autorregenerar, em função do desmatamento, da degradação e do aquecimento global.

Nesse sentido, a diretora de gestão das florestas Públicas (DGFLOP-IDEFLOR-Bio), Gracialda Ferreira, também acredita que o manejo florestal é uma ferramenta indispensável no processo de manter a floresta em pé e produtiva. “Dividir experiências com um país que também compõe a Amazônia é importante para costurar mais essa rede, ampliar e fortalecer o manejo, tanto o manejo voltado para girar uma grande economia da Amazônia, mas principalmente para aqueles povos e comunidades que dependem desses recursos para sua subsistência”. 

Na análise da Gracialda Ferreira se a rede for bem consolidada e com estratégias sólidas  tem mais chances de dar certo. “O IEB trouxe essa possibilidade de articular o Estado junto com as iniciativas que o Observatório do Manejo Florestal Comunitário já conduzem. O manejo florestal é uma estratégia política planetária, porque o reflexo dele é no planeta todo”.

No dia 18 de agosto, o Observatório do Manejo Florestal e Comunitário participou de outra reunião semelhante com a comitiva de dirigentes e técnicos do Serviço Florestal dos Estados Unidos e do Serviço Florestal Nacional e da Fauna Silvestre do Peru. Na ocasião também foram apresentados os trabalhos desenvolvidos com a atividade de manejo.

 

Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar recebe técnicos do serviço florestal dos EUA e Peru

Encontro promoveu a troca de conhecimentos entre nações que preservam a floresta amazônica.

Diálogo e troca de experiências acerca de serviços florestais, assim foi a reunião entre a comitiva de dirigentes e técnicos do Serviço Florestal dos Estados Unidos e do Serviço Florestal Nacional e da Fauna Silvestre do Peru com integrantes do Observatório do Manejo Florestal e Comunitário. O encontro foi realizado na tarde da última sexta-feira (18), no auditório do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), em Belém do Pará. 

A comitiva, com cerca de vinte integrantes do Serviço Florestal dos EUA e Peru, está no Brasil desde o dia 13 de agosto dialogando com ministérios, instituições públicas, organizações não-governamentais (ONGs), cooperativas florestais e assentamentos a fim de conhecer experiências, tecnologias e políticas públicas que fomentem o uso sustentável da floresta para combater a crise climática. A visita técnica encerra em 20 de agosto.

Domingos Macedo, coordenador do Programa Internacional no Brasil do Serviço Florestal dos Estados Unidos, explica que o papel do órgão é fomentar iniciativas que têm a mesma agenda nos EUA. “Nós apoiamos algumas cadeias de valor da sociodiversidade como a da castanha, açaí e borracha. O papel principal é criar oportunidades, encontros, fomentar intercâmbio e, quem sabe, cooperações técnicas. Há um mês atrás, fizemos uma agenda similar com o Serviço Florestal do Gabão, na África, que ficou interessado em um futuro bem próximo fechar uma cooperação com agências dos seus pares aqui no Brasil”, explica. 

Segundo dados do Inventário Florestal Nacional, Nacional de Florestal Pública, um projeto coordenado pelo Serviço Florestal Brasileiro, um terço das florestas da América Latina estão sob o domínio de comunidades e mais de 60% da floresta amazônica está em território brasileiro. Assim, as contribuições do país são fundamentais para o debate.

“O Brasil, por deter, em termos territoriais, mais espaço dentro da bacia amazônica, tem ganhos e lições interessantes que podem ser utilizadas pelos países vizinhos. Hoje foi citada a questão do manejo florestal e comunitário como mitigação de emissões de gases do efeito estufa. O Brasil não está adiantado nesse setor, em contrapartida, o Peru já evoluiu bastante nessa área. Esse é o papel desses encontros: fazer um balanço entre experiências e lições aprendidas”.

Elvira Gomez Riveiro, diretora geral de informação e ordenamento florestal do Serviço Florestal Nacional e da Fauna Silvestre do Peru afirma que queria conhecer as vivências brasileiras e outros órgãos, como o Serviço Florestal Brasileiro, iniciativas ligadas ao manejo florestal comunitário e familiar, além do monitoramento e controle, assim como as experiências da Floresta Nacional do Tapajós. “Hoje ouvimos a experiência do manejo realizado pelo Observatório. Temos coisas em comum e outras muito diferentes, mas acredito que com o que ouvimos podemos melhorar o manejo florestal no nosso país”. 

O combate à crise climática foi um tema recorrente na reunião. Elvira pontua que ele atravessa todas as atividades realizadas no setor florestal no Peru, logo o papel principal da reunião foi fortalecer os laços de cooperação entre os países. 

“Na reunião um dos meus companheiros perguntou acerca de manejo florestal comunitário e como ele consta como mitigação das mudanças climáticas. Ele fez a pergunta, porque isso é importante para o Peru. Queremos manter e fortalecer essa relação com o Brasil, porque nós temos a Amazônia. Então, é importante trabalhar e identificar parceiros como o próprio Serviço Nacional dos EUA”. 

Para o coordenador executivo do IEB, Manuel Amaral, a avaliação do encontro é positiva, porque ao impulsionar o intercâmbio técnico entre países da América Latina e dos EUA. “Neste momento pós-cúpula da Amazônia, esse encontro pode ser visto como uma iniciativa de fortalecimento de se trazer esses temas para discussões acerca do desenvolvimento sustentável”, resume.

Nos dias 8 e 9 de agosto, Belém do Pará recebeu a Cúpula da Amazônia, evento que reuniu os nove países da América Latina que compartilham o bioma. O objetivo foi definir uma agenda comum de preservação da floresta amazônica levando as particularidades de cada região e das pessoas que nela habitam. 

Amaral acrescenta ainda que a presença do Observatório do Manejo Florestal e Comunitário na agenda da visita técnica dos serviços florestais do Peru e EUA é um reconhecimento pelo trabalho de 25 anos que o IEB desenvolve no setor. “Nós temos promovido uma experiência inovadora de articulação em rede para a promoção do Manejo Florestal Comunitário. Então saio com uma impressão muito boa desse intercâmbio técnico, porque esse é um tema que tem sido marginalizado nas políticas públicas nos últimos anos, mas que a gente encontra ressonância aqui entre esses países para alavancar essa agenda”. 

Visita de Campo – No sábado (19), o IEB facilitou uma visita ao assentamento Abril Vermelho do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), situado no município de Santa Bárbara, a 40 km de Belém. Raimundo Nonato Filho, uma das lideranças do MST/PA, compartilhou o processo criação do assentamento, iniciado em 2004, com a ocupação da fazenda da empresa Dendê do Pará S/A (Denpasa), destinada ao monocultivo de dendê.

O grupo fez três paradas, uma na entrada, onde ainda é possível conferir corredores de plantação de dendê e em outros dois lotes do assentamento. Filho explicou as formas de organização e o processo de transição agroecológica que vem sendo realizado pelos agricultores, com apoio de ongs como o WRI e Imazon.

Criado em 2009, hoje o assentamento abriga cerca de 400 famílias assentadas em uma área de 6.668 hectares de terra. Um dos núcleos familiares visitados foi o da Raimunda Craveiro, mais conhecida como dona Rai. Para chegar no primeiro destino, o grupo percorreu cerca de 20km nas estradas de terra batida e, à medida que os lotes começavam a aparecer, já era possível notar a mudança na composição da paisagem.

Junto com seus três netos e mais a família de um dos filhos, a agricultora cultiva açaí, cacau – entre outras plantas – além de aves e um pequeno tanque com peixes. Assim como a maioria dos que estão assentados no Abril Vermelho, dona Rai utiliza mão de obra familiar e escoa sua produção para feiras da região metropolitana de Belém. Ela comentou sobre o processo de implantação do Sistema Agroflorestal (SAF) em sua propriedade, e sobre a dificuldade de acesso aos mercados institucionais e às políticas públicas para o financiamento da atividade produtiva.

Dona Rai recebeu integrantes do Serviço Florestal dos Estados Unidos e do Serviço Florestal Nacional e da Fauna Silvestre do Peru no SAF implantado em seu lote

O assentamento Abril Vermelho apresenta uma estrutura organizativa em quatro polos de organização espacial.  Inicialmente os agricultores implantaram culturas alimentares anuais, a roça de mandioca, feijão, milho, mandioca e, por volta de 2017, iniciaram o plantio de espécies perenes como andiroba. A partir de 2018, começaram a implantação dos SAFs.

Engenheiro florestal e especialista em restauração ecológica, Alberto Mamani, do Serfor Peru, destacou que a “visita foi muito importante para nós conhecermos a realidade do MST, como desenvolvem seus meios de vida e como, a partir das oportunidades limitadas e também do nível de degradação da terra, buscaram não só curar a terra, mas fazer dela uma oportunidade, não somente para alimentos e para a forma de se organizarem, mas também de entender que a natureza pode ajudar, que podemos conviver de maneira harmoniosa e que podemos cuidar desse nosso lugar comum”, afirmou Mamani.

A última parada foi no lote da família de Raimundo Filho, onde puderam conhecer uma área de integração entre regeneração natural e áreas plantadas. O agricultor fez uma reflexão sobre a necessidade da reforma agrária e a importância de políticas públicas voltadas à educação no campo e ao fortalecimento da identidade camponesa.

Filho mostra ao grupo uma antiga área de plantação de dendê situada em seu terreno
Na última parada, o grupo foi levado à residência de Filho e Valéria Lopes. Os visitantes foram recepcionados com frutas da horta, açaí batido na hora, charque e peixe frito
Valéria e Filho entregaram lembranças do MST

 

A visita foi finalizada no lote do Filho e da Valéria, onde o grupo conheceu áreas em restauração, implementação de SAFs e criação de aves e abelhas sem ferrão

Diálogos Amazônicos: governo federal e sociedade civil dialogaram sobre desafios do manejo florestal comunitário e familiar

A retomada do Programa Federal de apoio ao manejo florestal comunitário e familiar foi uma das pautas do encontro

Representantes da sociedade civil, do governo e de comunidades agroextrativistas se reuniram na tarde da última sexta (04), durante atividade auto-organizada do Diálogos Amazônicos, para refletir sobre a importância do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (MFCF) como estratégia para impulsionar a bioeconomia e a conservação de florestas públicas na Amazônia brasileira.

Promovida pelo Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e Serviço Florestal Brasileiro (SFB), e com apoio do Fórum Diálogo Florestal da Amazônia, a atividade discutiu as propostas da sociedade civil e os compromissos assumidos pelo governo brasileiro na agenda.

A mesa contou com a presença da diretora de bioeconomia da Secretaria Nacional de Bioeconomia do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Bruna de Vita; do diretor de fomento florestal do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), André Aquino; da diretora de ações socioambientais e consolidação territorial do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Kátia Torres; da agroextrativista Maria Margarida Silva, da Reserva Extrativista (Resex) Verde para Sempre; e do coordenador executivo do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Manuel Amaral.

Moradora da comunidade Arimum, situada na Resex Verde para Sempre, no município de Porto de Moz (PA), Maria Margarida contou que sua comunidade foi a primeira a aprovar plano de manejo na Resex e que, apesar de alguns avanços, ainda é necessário estruturar melhor as atividades.  “Nós temos que empoderar essas comunidades, identificar os problemas em cada uma e retomar as parcerias. O manejo não pode parar, esse é um momento de apresentarmos as nossas necessidades ao governo para executarem as políticas públicas“, afirmou.

Maria Margarida fez um balanço dos 17 anos de manejo na Resex Verde para Sempre e cobrou mais apoio federal para a condução das atividades

Diretora de bioeconomia do MMA, Bruna de Vita pontuou que, em algumas áreas, a institucionalidade do manejo ainda é frágil e que o governo tem articulado ações para fortalecer o setor. As comunidades não tem um capital de giro que seja eficiente para começar os negócios e ficam vulneráveis sendo assediadas para explorarem a madeira no nome delas. Nesse sentido, o MMA e o SFB começaram um processo de recuperar esse manejo florestal comunitário e familiar, reunindo atores do próprio ministério, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), da Embrapa e do OMFCF para que a gente pudesse ter um fórum mais elaborado,  para que a gente pudesse não só trazer recomendações, mas juntar os atores para trazer algumas respostas”, frisou Bruna.

Relevância do manejo

Ao menos um terço das florestas na América Latina estão sob domínio das comunidades – cerca de 60% do território da Amazônia Brasileira.  Ao fazer um resumo da evolução do MFCF, o coordenador executivo do IEB, organização que abriga a secretaria executiva do Observatório do MFCF, afirmou que o manejo florestal comunitário e familiar deve ser entendido como uma estratégia eficaz para conservação florestal e para discussões sobre o clima.

Existem lições aprendidas no Brasil que poderiam impulsionar o MFC em larga escala. O desmatamento continua na Amazônia brasileira e em ritmo alarmante, por que não temos uma política pública robusta de fomento ao MFC na Amazônia brasileira?”,  indagou Manuel Amaral.

Responsável pela gestão de unidades de conservação federais,  o ICMBio destacou a importância do fortalecimento comunitário e da articulação de atores. “Estamos nos debruçando junto com os movimentos sociais para avançarmos na gestão compartilhada dos territórios. Hoje em dia a gente vê que precisa retomar o trabalho de base mesmo, a construção em comunidade por comunidade, associação por associação, para que os processos sejam legítimos, para que os mercados entrem de uma forma saudável e não como elemento de divisão e luta”, ressaltou a diretora Kátia Torres. 

Kátia Torres destacou a importância do fortalecimento comunitário e os movimentos de articulação para retomada da agenda

Programa Federal – O Programa Federal de apoio ao Manejo Florestal Comunitário e Familiar foi criado através do Decreto 6.874/2009 mediante demandas apresentadas pelo segmento da sociedade civil envolvido com o tema. Entre os anos 2010 e 2012, foram elaborados Planos Anuais de implementação do Programa com uma agenda desenvolvida pelas agências governamentais, cooperação internacional e organizações da sociedade civil. Nos anos seguintes o Programa entrou em refluxo e foi impactado com a desconstrução das agendas socioambientais no Brasil, até ser revogado, em 2021.

Com a mudança de governo em 2023, o Programa entra na agenda do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) e a partir de então foram estabelecidas frentes de diálogos com as organizações da sociedade civil visando sua retomada.

Representante do SFB na mesa, André Aquino puxou uma reflexão sobre o que seria a retomada do programa federal de apoio ao manejo florestal comunitário e familiar, apresentando experiências internacionais e o potencial de mercado. É fundamental discutir novas bases para o manejo florestal comunitário e familiar, o que temos chamado de manejo 2.0. O MFCF pode suprir parte importante da demanda nacional por madeira, aproximadamente 7,8 milhões de m³/ano, considerando um aproveitamento médio de 20m³/ha para plano de manejo e ciclo de corte de 30 anos”, destacou André.

Política estadual – No Pará, as organizações comunitárias, de assessoria técnica e instituições de pesquisa também têm expectativa que o movimento de retomada das políticas públicas de apoio ao manejo florestal comunitário impulsione a implementação da Política Estadual de Manejo Florestal Comunitário, proposta há mais de 10 anos a partir de contribuições de diversos setores da sociedade civil, mas que nunca chegou a ser sancionada pelo executivo estadual.

A íntegra do evento está disponível no YouTube do OMFCF, no link: https://www.youtube.com/watch?v=-pMxnhkpN1Y

 

Manejo Florestal Comunitário e Familiar será pautado nos Diálogos Amazônicos, em Belém (PA)

Evento ocorrerá entre os dias 4 e 6, antecedendo a Cúpula da Amazônia, que contará com a presença de líderes de países amazônicos

Os Diálogos Amazônicos reunirão, entre os dias 4 e 6 de agosto, em Belém (PA), um conjunto de iniciativas da sociedade civil com o objetivo de pautar a formulação de novas estratégias para a região.

O evento integrará a programação da Cúpula da Amazônia, que se estenderá até 9 de agosto na capital paraense, e seus resultados serão apresentados aos líderes de países reunidos na Cúpula.

Durante os Diálogos Amazônicos, uma das atividades auto-organizadas terá como tema “A importância do Manejo Florestal Comunitário e Familiar como estratégia para impulsionar a bioeconomia e a conservação de florestas públicas na Amazônia brasileira”.

Promovida pelo Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e Serviço Florestal Brasileiro, e com apoio do Fórum Florestal da Amazônia, essa atividade discutirá as propostas da sociedade civil e os compromissos assumidos pelo governo brasileiro na agenda.

Também participarão da atividade, organizações da sociedade civil, representantes de associações e cooperativas que operam planos de manejo florestal comunitário na Amazônia e extrativistas dos estados do Pará e Amapá.

A atividade sobre Manejo Florestal Comunitário e Familiar, durante a programação dos Diálogos Amazônicos, ocorrerá no dia 4 de agosto, sexta-feira, às 14h, na sede da Superintendência de Patrimônio da União no Estado do Pará (SPU), localizada na Av. Senador Lemos, 4700, em Belém.

Para participar do evento, basta preencher um formulário de manifestação de interesse. A atividade será presencial, mas também é possível participar de forma virtual, desde que essa opção seja indicada no formulário.

Em evento realizado pela rede Diálogos Pró-Açaí, em Belém (PA), cozinhas coletivas despontam como estratégias de combate à fome

Iniciativa reuniu agroextrativistas, quilombolas, representantes de ONGs e dos governos federal e estadual

A fome tem cara, cor, gênero e local. Os maiores índices estão nas regiões Nordeste e na Amazônia. Somente aqui no Pará,  53% dos domicílios de famílias com crianças de até 10 anos estão em situação de insegurança alimentar moderada ou grave”. Com essa afirmação, Márcia Muchagata, coordenadora geral de segurança alimentar e nutricional do  Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) iniciou sua fala no evento “Açaí: força da sociobioeconomia amazônica”, realizado em Belém nos dias 31 de maio, 1 e 2 de junho.

Ao lado dela, estavam representantes dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA); do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA); da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR); da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); do Serviço Florestal Brasileiro (SFB); da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuária e da Pesca (Sedap/PA); da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas/PA); do Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição Escolar da Universidade Federal do Pará (Cecane/UFPA); e facilitadores de manejo de mínimo impacto, reunidos para debater políticas públicas em resposta aos desafios para a sustentabilidade da cadeia de valor do açaí.

De ativos tecnológicos a programas estruturantes, em 15 minutos, cada pasta apresentou suas principais ações e programas relacionados ao desenvolvimento da cadeia do fruto que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), movimenta cerca de R$ 6 bilhões ao ano.

Após as falas governamentais, Teofro Gomes, agroextrativista da comunidade Santo Ezequiel Moreno, situada em Portel, no Marajó (PA), perguntou quem, entre os colegas de mesa e os demais participantes do evento, já esteve em sua comunidade. Pouquíssimos braços no ar. Enquanto constatava o que já parecia saber, Teofro foi enfático “política pública não chega na comunidade e não dá pra discutir isso sem discutir educação”.

Uma das lideranças de Santo Ezequiel Moreno, Teofro Gomes participou da mesa redonda sobre políticas públicas, realizada pela rede Diálogos Pró-Açaí em Belém (PA)

Do quilombo Jocojó, situado em Gurupá, também no Marajó, Fábio Muniz seguiu a deixa de Teofro e afirmou que estava surpreso em ouvir tantas políticas públicas. O quilombola relatou períodos pontuais de apoio, citando organizações da sociedade civil e iniciativas de assistência técnica, mas apresentou o que chamou de uma zona de desconforto, onde enfrentam assédios de madeireiras e empresas da área do carbono, finalizando com uma cobrança. “O que o Estado quer é manter a floresta em pé. E sobra pra quem? Para os ribeirinhos? O que ele [o Estado] coloca para que eu, homem e mulher do campo, possa entrar no diálogo da conservação? Se houver uma política pública, lá estamos nós”, disse.

Para a coordenadora da Cooperativa Manejaí e da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Alto Pacajá, Gracionice Corrêa, falar de açaí e das suas diferentes formas de produção, sem antes pensar na segurança alimentar e no conforto dos que estão no território, parece não fazer sentido. Segundo ela, a reunião de agentes governamentais e de lideranças agroextrativistas foi um dos pontos altos do evento.

Trazer esses encontros até nós é fundamental, foi um espaço muito bom, bem aberto para que a gente pudesse dialogar com os gestores governamentais,  eles precisam nos ouvir para que conheçam onde estão as comunidades, onde estão as necessidades e para que eles possam, de uma forma metodológica melhor, fazer essas políticas públicas chegarem lá, traçando uma metodologia diferenciada, compreendendo as nossas realidades”, disse coordenadora da Cooperativa Manejaí, Gracionice Corrêa.

Cozinhas Coletivas – Em conversa com Márcia Muchagata, a coordenadora do MDS afirmou que hoje, segundo dados da  Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan), o Brasil possui 33 milhões de pessoas em insegurança alimentar grave e que o meio rural concentra o maior percentual de famílias em situação de insegurança.

Durante o período da pandemia, principalmente por conta da ausência de políticas públicas para lidar com a questão da fome, a sociedade civil desempenhou um papel extremamente importante, a exemplo dos bancos de alimentos e das cozinhas comunitárias, onde grupos de pessoas se reuniram com alimentos doados, mão de obra voluntária, equipamentos, à medida que conseguiam, para ofertar comida para as populações em insegurança alimentar”, pontuou Márcia.

Márcia Muchagata destaca o papel das cozinhas coletivas durante o evento “Açaí: força da sociobioeconomia amazônica”

Após contar sobre os esforços do MDS para fazer um levantamento das cozinhas comunitárias existentes no país para identificar como que elas estão organizadas, que tipo de recurso e de equipamentos possuem, Muchagata, afirmou que “as cozinhas são muito importantes e o que a gente quer é que elas também possam ser receptoras de alimentos produzidos pela agricultura familiar no âmbito do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), fazendo com que se tenha circuitos curtos de alimentação, onde  é utilizado um produto que é produzido com cultura e modos de fazer local”.

A comunidade de Santo Ezequiel Moreno, de forma inovadora e exemplar, criou, ainda em 2018, a Cozinha Agroextrativista Iaçá, idealizada por um grupo de 20 mulheres, que se organizou para produzir alimentos de qualidade e em quantidade suficiente para atender à demanda de escolas municipais.

A iniciativa foi uma conquista da Associação de Moradores Agroextrativistas do Rio Acutipereira (ATAA), do Fundo Açaí, da Associação dos Moradores Agroextrativistas do Assentamento Acutipereira (Asmoga), em parceria com o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e Fundo Socioambiental Caixa, junto ao projeto “Mulheres Marajoaras”.

Waldiléia Rendeiro, analista socioambiental do IEB, aponta que a cozinha é um espaço coletivo importante para as mulheres e comunidade, visa potencializar a produção da culinária local , a segurança alimentar e contribui para a geração de renda. “O espaço tem sido estratégico como uma ferramenta que pode contribuir para ampliar as possibilidades de autonomia financeira, de empoderamento e fortalecer outros processos mais abrangentes no debate local de desenvolvimento socioeconômico e ambiental. Por isso é fundamental continuar investindo no fortalecimento organizacional dos coletivos de mulheres. Inclusive, esse trabalho também está sendo incentivado no Amapá, a partir de uma articulação entre mulheres agroextrativistas”, conta a analista.

Cozinha Iaçá – Após 5 anos, a cozinha Iaçá continua desempenhando um papel importante na comunidade de Santo Ezequiel Moreno. “A cozinha veio valorizar o trabalho das mulheres, e a gente valoriza os produtos que a comunidade tem, né? Hoje a gente não fica só aqui, a gente viaja, vai pra outros estados e já fomos até convidadas para fora do Brasil.“, contou Sônia do Socorro, da comunidade Santo Ezequiel Moreno, durante um evento realizado recentemente em Portel. Representada por Ana Maria, a cozinha foi a fornecedora dos lanches da manhã e da tarde durante os três dias do evento “Açaí: força da sociobioeconomia amazônica”, em Belém.

Rede – A cozinha Iaçá integra a Articulação de Mulheres Agroextrativistas na Amazônia (A-mana), criada a partir do projeto “Articulação em Rede”, com o objetivo de envolver coletivos dos estados do Pará e Amapá para dialogar sobre os desafios e oportunidades para a inclusão socioprodutiva de mulheres. A articulação também conta com o apoio do Observatório do Manejo Florestal, Comunitário e Familiar (OMFCF), iniciativa que articula diversas organizações da sociedade civil, institutos de ensino, pesquisa e comunidades, com a missão de promover o manejo florestal como uma estratégia relevante, consistente e viável para a sustentabilidade da Amazônia.

Atualmente o Observatório é composto por 54 organizações, das quais 34 são organizações comunitárias – associações, cooperativas ou mesmo organizações representativas de movimentos sociais. Juntas, essas organizações são responsáveis pela gestão de cerca de seis milhões de hectares em unidades de conservação distintas na Amazônia.

Reflorestamento: uma alternativa ao desmatamento

No município de Portel e Breves, no arquipélago do Marajó, no Pará, um projeto tem por objetivo plantar 500 mil mudas de espécies nativas.

Após uma queda em janeiro deste ano, o desmatamento na Amazônia voltou a crescer em fevereiro. A informação do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) aponta que foram derrubados 325 km² de floresta – a maior devastação registrada para o mês de fevereiro em 16 anos. Em contraponto a esse dado, em dois municípios do Marajó, 26 mil mudas foram plantadas – via sistemas agroflorestais – como forma de combater o desmatamento. A meta é plantar 500 mil até 2024.

O reflorestamento pode ser feito de diversas formas e no caso do “projeto Marajó Socioambiental 2030”, o escolhido foram os sistemas agroflorestais (SAFs) que têm por princípio se assemelhar aos ecossistemas naturais no qual árvores exóticas ou nativas vivem em consórcio a culturas agrícolas, trepadeiras, forrageiras e arbustivas.

Entre as espécies escolhidas para compor o Marajó Socioambiental estão: cupuaçu, açaí, ipê, mogno e muitos outros, totalizando 44 espécies florestais e frutíferas. 

O processo consiste em cultivar mudas em viveiros comunitários localizados em dois municípios do Marajó: Portel e Breves e depois distribuir essas mudas. “São sete viveiros comunitários em Portel e um no município de Breves, sendo que alguns têm a capacidade de produzir até 12 mil mudas. Depois, essas mudas que são cultivadas por moradores das comunidades são plantadas para gerar alimento e renda para essas famílias”, afirma o analista socioambiental do IEB, Marcos Silva. 

Marcos destaca também que a escolha deste sistema levou em conta a necessidade de se produzir alimentos para as famílias. “Dentre os tipos de reflorestamento, os SAFs otimizam o uso da terra, unindo a preservação ambiental com a produção de alimentos, conservando o solo e diminuindo a pressão pelo uso da terra para a produção agrícola”, acrescenta.

Primeiros passos

Na primeira etapa, 80 famílias de Projetos Estaduais de Assentamentos Agroextrativistas (PEAEX ) situados em Portel, no Marajó, iniciam o plantio de 60 mil mudas. Todas as famílias vivem em áreas de PEAEX com plantio em: Acangatá, Acutipereira, Alto Camarapi, Jacaré Puru, Ilha Grande Pacajaí e Ilha Grande Laguna.

No processo, milhares de pequenos açaizeiros e cacaueiros, entre outras espécies nativas da região, serão plantadas nos terrenos das famílias engajadas no projeto. Para cumprir a meta, o IEB apostou na revitalização dos viveiros já instalados na região e no engajamento das comunidades no desenvolvimento das atividades. 

Representante do viveiro do Peaex Alto Camarapi, Romário Pacheco comemora a retomada dos espaços. “O nosso viveiro tem capacidade para 12 mil mudas e a gente já conseguiu a meta desse primeiro ciclo. Nós já temos cadastro de algumas famílias que vão receber essas primeiras mudas e de outras que também estão nos procurando para receberem. Acho que esse projeto é muito importante porque vai alavancar essa produção maior de variedade de espécies que a gente tem hoje e no futuro tornar o território mais sustentável, com a produção de alimentos saudáveis”, avalia Pacheco.

Outra moradora da comunidade, Gracionice Costa da Silva Correia, que atualmente é presidente da cooperativa Manejaí e da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Alto Pacajá (ATAAP) vê a ação de forma positiva sobretudo no que diz respeito a geração de renda tanto por quem recebe as mudas como também por aqueles que produzem as mudas e também para os “viveiristas”, que são da própria comunidade.

“Quando o projeto absorve mão de obra técnica da própria comunidade isso é uma valorização profissional comunitária, valorização do potencial humano local que temos, e dentro disso vem a melhoria da qualidade de vida para as famílias, com a geração de trabalho e renda. Essas pessoas têm o conhecimento empírico, aquele conhecimento tradicional comunitário que, compartilhado, vai melhorando as técnicas e buscando melhor qualidade de vida para todos e também promove a segurança territorial, a segurança ambiental. Tudo isso permite um mundo melhor, com meio ambiente mais equilibrado, um meio ambiente que ainda se possa ter conhecimentos de muitas espécies de matérias e também o desenvolvimento da tecnologia para uma educação diferenciada ao campo”, afirma.

Para aumentar a efetividade do plantio, o Marajó Socioambiental 2030 está realizando o FORMAR Restauração e Gestão, formação continuada que dialoga com os saberes tradicionais dos educandos. “A gente quer aproveitar todo o conhecimento acumulado dos cursistas e repassar algumas técnicas que podem melhorar o que eles já  fazem. Vamos ter um círculo só sobre sementes, sobre como coletar, armazenar, qual a época adequada para cada espécie”, conta.                    

Marajó Socioambiental 2030

Dividido em quatro eixos centrais, o projeto pretende estimular a restauração florestal e fomentar o fortalecimento de comunidades no arquipélago do Marajó, com foco nos municípios de incidência, que são: Breves, São Sebastião da Boa Vista, Melgaço, Portel, Muaná e Curralinho.

Previsto para ser implementado até 2024, uma das metas do projeto é plantar 500 mil mudas de espécies agroflorestais, produzidas a partir de viveiros comunitários instalados em Portel e Breves, municípios onde o FORMAR Restauração e Gestão será realizado. A equipe promoverá a integração dos demais municípios por meio de atividades de intercâmbio e outras ações que possibilitem a socialização dos conhecimentos.

O plantio de mudas segue até maio de 2023, durante o período de chuva, época propícia para o cultivo de espécies perenes (culturas de ciclo longo). O projeto é implementado pelo IEB, com a parceria da Awí Superfoods e do Instituto 5 Elementos, e com o apoio do Fundo Socioambiental (FSA) da Caixa Econômica Federal.

A ação integra o projeto Marajó Socioambiental 2030, realizado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Associação dos Moradores Agroextrativistas do Assentamento Acutipereira (ASMOGA) e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Portel (STTR), com apoio do Fundo Socioambiental da Caixa, todos membros do Observatório do Manejo Florestal e Comunitário (OMFC). 

Referências:
https://www.embrapa.br/codigo-florestal/sistemas-agroflorestais-safs
https://imazon.org.br/imprensa/desmatamento-na-amazonia-cresce-7-e-tem-o-pior-fevereiro-em-16-anos/
https://www.esalqjrflorestal.org.br/post/reflorestamento-definicao-e-beneficios

Texto: Catarina Barbosa

Nota sobre ataque ao CNS e a outras organizações que atuam em favor de comunidades e povos tradicionais na Amazônia

O Observatório do Manejo Florestal, Comunitário e Familiar (OMFCF) acompanha com preocupação a escalada de violência contra comunidades e povos tradicionais e contra organizações que atuam diretamente com as pautas de interesse desses públicos.

No dia 21 de abril, o escritório regional do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), em Belém (PA), foi vítima de um atentado. Homens armados espancaram membros da instituição, levaram documentos e roubaram equipamentos. Segundo representantes do CNS, os criminosos ameaçaram e ordenaram que a instituição parasse de fazer denúncias em relação a questões de terras e grilagem.

Ainda em março deste ano, lideranças do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA) e do Sindicato de Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares de Santarém (STTR) foram vítimas de ameaças após percorrerem a Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns para explicar às comunidades a importância do protocolo de consulta prévia livre e informada. De acordo com as apurações em curso, as ameaças partiram de pessoas que realizam a exploração ilegal de madeira na Resex situada em Santarém, oeste paraense.

Outro território que vem sofrendo pressão é a Resex Verde para Sempre, em Porto de Moz, onde há indícios de irregularidades em planos de manejo criados entre 2019 e 2022, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Esses movimentos não são isolados. Relatório divulgado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), no dia 17 de abril, aponta que, em 2022, foram registrados 2.018 casos de conflitos no campo, envolvendo 909,4 mil pessoas e mais de 80,1 milhões hectares de terra em disputa em todo o território nacional, o que corresponde à média de um conflito a cada quatro horas. Os números indicam aumento de 10,39% em relação ao ano anterior, quando houve o registro de 1.828 ocorrências totais de conflitos rurais.

Das unidades da federação com índices mais elevados de conflitos por terra, quatro integram a Amazônia Legal. A região concentrou, em 2022, um total de 1.107 conflitos no campo, o que representa mais da metade de todos os conflitos ocorridos no país (54,86%). Outro dado alarmante é que, dos 47 assassinatos no campo registrados no Brasil no ano passado, 34 ocorreram na Amazônia Legal, o que representa 72,35% de todos os assassinatos no país.

O OMFCF, que é composto por mais de 60% de organizações de base comunitária, reitera a importância de ações de investigação e fiscalização nos territórios, mas, acima de tudo, a urgência da formulação de políticas públicas que regulamentem as atividades de manejo florestal comunitário e familiar.

Esse tipo de mecanismo pode contribuir para a definição de usos possíveis e os limites para os usos das florestas públicas e territórios coletivos, e para o combate à extração ilegal de produtos florestais, fortalecendo, assim, a defesa desses território e a conservação da biodiversidade. A ausência de regulamentação favorece um modelo predatório de exploração, causando risco à floresta e aos povos que nela vivem.

Cipó-titica: a ancestralidade das famílias de Porto de Moz

A Associação de Mulheres Emanuela retoma o sonho de voltar a comercializar peças a partir do produto florestal.

O manejo florestal e comunitário quase sempre tem como foco a atividade madeireira. No entanto, há uma série de outros produtos que podem ser extraídos e/ou coletados das florestas e que também podem gerar renda para as comunidades tradicionais, são eles: frutos, cascas, cipós, flores e outros recursos naturais. Em Porto de Moz, no Pará, o cipó-titica também chamado de vime ou, apenas, cipó é um deles e voltou a ser visado por mulheres que desenvolvem atividades agroflorestais no município.

Cristiana Martins Braga, nasceu em Porto de Moz e atualmente trabalha com o manejo da madeira na Resex Verde para Sempre, ela também integra a Associação de Mulheres Trabalhadoras do Campo e da Cidade (Emanuela) e é com essas mulheres que ela busca retomar o sonho de trabalhar com o cipó. 

Cristiana conta que a organização voltou a discutir formas de trabalhar com o cipó por entender que é preciso diversificar as possibilidades de renda sem que isso prejudique a natureza. “O cipó cresce de forma espontânea na floresta, com o manejo faríamos a colheita dele sem impedir que ele continuasse nascendo”, resume.

Além disso, Cristiana esclarece que não é a primeira vez que as mulheres da Associação de Mulheres Trabalhadoras do Campo e da Cidade (Emanuela) pensam em trabalhar com cipó. “A primeira edição do projeto Cipó-Titica foi em 2001, ou seja, há 22 anos, mas esse é um conhecimento que aprendemos com nossas mães, tias, avós e que agora queremos retomar”, afirma. 

O objetivo da associação é estabelecer parcerias e apoios para que o sonho saia do papel. “No período do projeto [em 2001], tivemos o apoio de dois editais da Secretaria de Agroextrativismo do governo federal, mas neste momento estamos sem recursos e precisamos de algumas coisas para funcionar como madeira para fundo de cesto, armação para cadeiras, estantes, entre outros”, esclarece. 

Do cipó podem ser confeccionados produtos diversos como paneiros, vassouras, cestas, estantes, cadeiras e até bolsas. Além da renda, a utilização deste produto florestal é também uma alternativa ao desmatamento, tanto do ponto de vista socioeconômico quanto do ecológico.

Da colheita à confecção

O manejo florestal comunitário do cipó, assim como outros manejos comunitários tem por princípio respeitar os mecanismos de sustentação do ecossistema do cipó, de forma mais simples, utilizá-lo sem que isso cause danos à sua existência. Nesse sentido, o produto pode gerar benefícios econômicos, sociais e ambientais para as pessoas que vivem na floresta.

Cristiana detalha que as etapas de extração do cipó são: o inventário que determina o local onde será feita a colheita, a coleta propriamente dita, o processo de descascar o cipó, e, por fim, a retirada em fibras. “A quantidade de fibras e tempo de duração do trabalho depende do tamanho da peça a ser confeccionada. Para fazer uma cesta demoramos, em média, um dia, mas peças grandes levam até uma semana para ficar prontas”, conta. 

Em 2001, na primeira edição do projeto, 73 mulheres foram qualificadas para trabalhar de forma comercial com o Cipó, agora Cristiana Martins Braga espera superar esse número. “Eu tenho muita confiança de que iremos qualificar ainda mais mulheres. Esse trabalho é muito importante para a nossa comunidade de várias formas, seja para as nossas famílias como também para a manutenção da floresta em pé. Estimamos que em Julho, que é quando realizamos o FestSol em Porto de Moz, já possamos ter alguns produtos prontos. Lembro que chegamos a vender um conjunto de salas [em 2001] por R $1.500. Ou seja, é possível gerar renda sem destruir a floresta e ainda colocar comida na mesa dos nossos familiares”. 

Fonte: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/859448/1/doc95cipotitica.pdf

Texto: Catarina Barbosa/OMFCF
Foto de capa (cipó-titica): MARTINS, Fábio Sian (Embrapa)

Artigo aborda participação de mulheres em projetos de manejo madeireiro comunitário

Pesquisadoras investigam a participação de mulheres em sete projetos de manejo madeireiro comunitário, situados em três reservas extrativistas da Amazônia Brasileira. Realizado ao longo de 15 meses entre 2018 e 2019, o estudo faz parte da dissertação da pesquisadora Ana Luiza Violato Espada.

A partir de metodologias participativas, as autoras Ana Luiza Violato Espada e Karen A. Kaineras conduziram observações participantes e discussões em grupos focais. Elas concluíram que, embora os projetos de manejo madeireiro comunitário ainda estejam concentrados nos trabalhadores homens, em duas das três reservas extrativistas, os processos de empoderamento abriram espaços para um maior engajamento das mulheres em cargos administrativos estratégicos e coordenadoras de campo.

Inclusão e participação de mulheres na gestão e governança de recursos naturais são temas críticos na pesquisa e políticas públicas para o setor florestal. No entanto, o empoderamento de mulheres no manejo colaborativo da madeira é pouco estudado e raramente alcançado na prática”, afirma a pesquisadora Ana Luiza.

Segundo as autoras, embora valores normativos possam reforçar negativamente os papéis de gênero no manejo madeireiro comunitário, um artigo mais recente publicado na revista científica internacional Land Use Policy expande os conceitos acadêmicos da pesquisadora Naila Kabeer sobre o empoderamento das mulheres com foco em recursos, agência e conquistas, detalhando como o ‘poder através’, um novo conceito de empoderamento das mulheres introduzido por Alessandra Galiè e Cathy Farnworth, opera e pode levar a níveis mais permanentes de empoderamento das mulheres.

Ana e Karen também contribuíram com as conceituações acadêmicas do empoderamento das mulheres, demonstrando que o “poder através” pode levar a níveis de empoderamento mais permanentes. No artigo, as autoras mostram uma representação de ‘poder através’ e ‘poder para’ aplicados empiricamente no contexto do manejo colaborativo da madeira em três reservas extrativistas da Amazônia brasileira: 

As setas em verde escuro destacam a capacitação como um recurso que empoderou manejadores homens e algumas mulheres. As setas em verde claro destacam o processo em que as mulheres associadas aos manejadores homens foram empoderadas através deles. As setas em marrom destacam como as mulheres que foram ‘empoderadas através de’ puderam exercer o ‘poder para’ alcançar posições estratégicas nos projetos madeireiros comunitários, servindo como modelos e levando a níveis mais permanentes de empoderamento das mulheres.

Com base nessa representação, as autoras afirmam que apoiar processos transformadores para empoderar as mulheres no uso comunitário de recursos naturais requer conscientização sobre atitudes e práticas discriminatórias baseadas em gênero por parte de homens e mulheres, bem como inovações por parte dos formuladores de políticas públicas, membros de comunidades, governo e organizações não-governamentais. 

Ana e Karen concluem o artigo com orientações para partes interessadas, como governo, doadores, ONGs e comunidades sobre atitudes e práticas não-discriminatórias baseadas em gênero.

O artigo está disponível neste link para download gratuito até 8 de abril de 2023. Pessoas interessadas em comentar, discutir e solicitar dados complementares podem entrar em contato com anaviolatoespada@gmail.com ou acessar https://anaviolatoespada.com/. 

Outros recursos – Ana Violato preparou um conjunto de seis infográficos em português que resumem o trabalho da dissertação para a devolutiva dos resultados a públicos variados. O material está disponível link.

O estudo foi financiado pela Escola de Ciências Florestais, Pesqueiras e Geomáticas (SFFGS) da Universidade da Flórida (UF), pelo Programa de Conservação e Desenvolvimento Tropical (TCD) do Centro de Estudos Latino-Americanos da UF, pela Rufford Foundation Small Grant , IdeaWild, a bolsa de pesquisa da UF no exterior para estudantes de doutorado e o programa de bolsas da International Tropical Timber Organization (ITTO).

As autoras agradecem especialmente a todas as pessoas que participaram da pesquisa e às seguintes organizações: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto de Floresta Tropical (IFT) por meio do Fundo Amazônia/BNDES, Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (IDESAM), por meio do Fundo Amazônia/BNDES, e do Observatório da Dinâmica das Interações entre Sociedades e Meio Ambiente na Amazônia (Odyssea/CIRAD).

#SDG5 #MulheresNaFloresta #GestãoComunitária #EmpoderamentodasMulheres

 

*Texto e fotos: Ana Luiza Violato Espada

 

‘Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar’ lança terceira edição de boletim informativo

A publicação destaca os 18 anos da Reserva Extravista (Resex) Verde Para Sempre e publicações que giram em torno do MFCF

O Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF) acaba de publicar a terceira edição de seu boletim de notícias. Referente ao período de setembro a dezembro de 2022, a nova edição destaca os 18 anos da Resex Verde Para Sempre, que representa um marco para o manejo florestal e comunitário no Brasil, além de publicações que abordam diferentes aspectos do MFCF.

A primeira matéria fala de futuro, por meio do olhar lúdico das crianças da Resex e como elas veem a floresta, palco diária de suas vidas. O texto apresenta uma produção audiovisual coordenada pela Embrapa Amazônia Oriental, como parte do projeto Bom Manejo 2.

O objetivo da peça é visibilizar diferentes abordagens do fazer científico em comunidades por meio de novas linguagens e também fortalecer o conceito de Saúde Única, que traz uma visão holística e integrada da saúde humana, animal, das plantas e da floresta.

O boletim destaca ainda a publicação “Monitoramento florestal na Amazônia Oriental: histórico e importância da ferramenta para estudo da dinâmica florestal”, publicado em 2022 pela Embrapa Amazônia Oriental.

O documento situa o avanço das pesquisas e a formação de redes nacionais e internacionais em torno do tema, além de listar os 121 títulos técnico-científicos anteriores, gerados de 1984 a 2021 com base nos dados do monitoramento de parcelas permanentes pela Embrapa Amazônia Oriental e pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).

Resex Verde Para Sempre

Com um território de 1,3 milhão de hectares, o equivalente a oito vezes o tamanho da cidade de São Paulo, a Verde para Sempre é considerada a maior Unidade de Conservação (UC) de Uso Sustentável do país.

O boletim destaca os 18 anos da criação da Resex, com um texto que apresenta relatos de como era a vida antes da consolidação da Verde para Sempre, os avanços e desafios para o futuro.

Gênero

O empoderamento de mulheres agroextrativistas foi pauta em um encontro de coletivos de mulheres do Amapá. Com o objetivo de promover a troca de experiências e de gerar uma articulação em torno de uma agenda comum para a inclusão socioprodutiva, o evento foi pensado como uma primeira etapa de mobilização e de caracterização de iniciativas para a criação de uma articulação em rede para mulheres visando o fortalecimento desses grupos nas dimensões socioeconômica e ambiental. No total, 35 pessoas de 21 organizações dividiram suas experiências.

Dicas de leitura

A publicação apresenta duas obras que abordam experiências de manejo florestal familiar e comunitário, o livro “Gestão e Manejo na Floresta: o protagonismo das comunidades na Reserva Extrativista Verde Para Sempre, Porto de Moz, Pará”; e o livro “Routledge Handbook of Community Forestry”, publicação (em inglês) que oferece uma visão global de experiências de manejo florestal comunitário, com estudos de casos da África, Ásia, Europa e Américas.

OMFCF

O Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF) articula diversas organizações da sociedade civil, institutos de ensino, pesquisa e comunidades, com a missão de promover o manejo florestal como uma estratégia relevante, consistente e viável para a sustentabilidade da Amazônia.

Atualmente é composto por 54 organizações, das quais 34 são organizações comunitárias – associações, cooperativas ou mesmo organizações representativas de movimentos sociais. Juntas, essas organizações são responsáveis pela gestão de cerca de seis milhões de hectares em unidades de conservação distintas na Amazônia.

Os últimos cinco anos do observatório foram dedicados à atuação junto à cadeia produtiva da madeira, da castanha e do açaí, mas articulamos expandir. Cabe dizer ainda que todo o trabalho só é possível porque temos parceiros, que são muitos, desde as organizações que atuam no ensino e/ou pesquisas, com o objetivo de fortalecer as boas práticas de manejo; até as que atuam no acompanhamento e/ou assessoria das organizações comunitárias.

Acesse:

A versão completa do 3º Boletim do Observatório do Manejo Florestal Comunitário está disponível em pdf, na versão para telas de computadores: https://bit.ly/boletimMFCF-3.

A versão para telas de smartphones está disponível em: https://bit.ly/boletimMFCF-celular.

 

[[arrow_upward|]]