Pará, o estado que mais desmata na Amazônia

O Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), em parceria com o jornalista Rogério Almeida, produziu uma série especial de reportagens sobre o avanço do desmatamento na Amazônia, assunto que tem como paralelo a escalada de assassinatos de ambientalistas, e busca chamar atenção para a necessidade de políticas públicas no enfrentamento direto desses conflitos socioambientais, como a política do Manejo Florestal Comunitário do Pará, que, de forma morosa, está chegando a marca de uma década de articulação junto ao estado.

O IEB atua como secretaria executiva do Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar, rede que articula dezenas de instituições e entidades comunitárias ligadas ao uso sustentável dos recursos da floresta, na Amazônia. Frente aos índices alarmantes de destruição das florestas e dos povos que nela habitam, é um dos papeis desse Observatório comunicar à sociedade informações relevantes sobre o Manejo Florestal Comunitário, apresentado essa atividade como alternativa de enfrentamento ao desmatamento e grande aliado na busca pelo desenvolvimento sustentável da região amazônica, a partir do protagonismo dos povos e populações que nela habitam.

Confira a reportagem 1/3 da série:

 

Área de desmatamento no Jari, fronteira do Pará com o Amapá – Foto: Rogério Almeida

Os constantes cortes no orçamento, reestruturação ou esvaziamento de órgãos relacionados com o tema do meio ambiente, reforma agrária e cidadania, nomeação de pessoas sem qualificação compatível para cargos estratégicos colaboram para o incremento do aumento do desmatamento na Amazônia, e por consequência, violações de direitos das populações consideradas tradicionais e a constante ameaça de autonomia de seus territórios por grileiros, madeireiros ilegais, grandes corporações de diferentes setores, garimpeiros e fazendeiros.

Conjuga-se ao quadro o avanço da fronteira do capital baseado na implementação de grandes projetos, a exemplo de construção de complexos portuários, modal de transportes (rodovia, hidrovia e ferrovia) e grandes hidroelétricas. Nesta agenda, o Baixo Amazonas (oeste paraense), região que abriga um complexo de unidades de conservação (UCs) – estima-se em 33 UCs – entre eles, territórios indígenas, remanescentes de quilombos, diversas modalidades de assentamentos rurais, consta como prioridade para a consolidação da região como um corredor de exportação da produção de grãos do Brasil Central. A agenda desenvolvimentista baseada no uso intensivo dos recursos naturais coloca em xeque a existência dos territórios acima citados, bem como a sobrevivência das populações que neles habitam.

Desde 2018, quando do início da gestão do novo governo federal, os números de desmatamento na Amazônia alcançam indicadores alarmantes. No ano de 2020 bateu recorde dos últimos dez anos, com o registro de 8.058 km² de floresta suprimida. O crescimento foi de 30% em comparação com o ano de 2019, quando se registrou a perda de 6.200 km². Desse total o estado do Pará responde por 42%, alertam dados sistematizados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), conforme esclarece o quadro abaixo.

Nesta conjuntura, ao longo da história o estado do Pará tem liderado toda ordem de indicador negativo em relação a desmatamento, ao trabalho em condição análoga à escravidão, bem como indicadores no campo de violência contra dirigentes que defendem a reforma agrária, o meio ambiente e os direitos humanos, onde o estado tem sido líder absoluto.

Estado que mais militantes sociais são assassinados

Os casos mais recentes são os assassinatos do indígena e professor de História Isac Tembé, 24 anos, por policiais militares no dia 12 de fevereiro, quando caçava com outros parentes. O caso ocorreu na Terra Indígena (TI) Alto Rio Guamá, no município de Paragominas, reconhecido reduto do agronegócio do estado. Em carta denúncia o povo Tembé-Theneteraha adverte que ameaças e ataques têm sido uma constante contra os indígenas, em particular liderados por madeireiros e fazendeiros.

A região é reduto de influência do vice-governador do estado, Lúcio Vale (PL), alvo de operação da Polícia Federal por desvio de recursos públicos em 10 municípios do estado, na segunda fase da Operação Carta de Foral, em dezembro de 2019. A acusação reside no desvio de R$ 39 milhões de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

Cristiano Vale (PL), irmão do vice-governador, acaba de ser empossado para presidir a Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e Amazônia (Cindra) da Câmara Federal. O ex-prefeito na cidade de Viseu é acusado de grilagens de terras, e votou a favor da MP Provisória 910/2019, depois convertida no Projeto de Lei (PL) 2633/2020, que facilita a regularização de terras sem averiguações, conta a reportagem do site Olho nos Ruralistas, do dia 13/03.

Sobre a execução de Isac, que deixa a esposa grávida, uma nota de protesto do povo Tembé defende que “O coração do povo Tembé-Tenetehara sangra com o brutal assassinato do nosso jovem guerreiro Isac Tembé. A bala que lhe tirou a vida, com apenas 24 anos, atingiu a todos que desde tempos imemoriais habitamos essa terra e fazemos a permanente defesa da floresta e de nossos saberes tradicionais.”

Isac foi morto no mesmo dia que Dorothy Stang

Isac tombou no mesmo dia em que o assassinato da missionária estadunidense e agente pastoral da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Dorothy Stang somava 16 anos. Stang foi morta na cidade de Anapu, no sudoeste do estado, aos 73 anos. A agente da CPT foi executada por denunciar grilagens de terra e o desmatamento na região. Como outros casos, um crime anunciado. Como outros assassinatos, poderia ter sido evitado tivesse o Estado vontade política.

Na mesma região, os assassinatos dos dirigentes sindicais Ademir Federicci (Dema), em setembro de 2001, e Bartolomeu dos Santos (Brasília), em julho de 2002 precederam a morte de Stang. Brasília foi estrangulado, teve as pernas quebradas e recebeu 12 tiros de armas de diferentes calibres. Por ironia, o crime ocorreu em uma comunidade denominada de Castelo dos Sonhos, região de Altamira, sudoeste do estado.

Assim como na TI do povo Tembé, os projetos de Assentamento de Desenvolvimento, Sustentável (PDS), efetivados após a morte da missionária, passam por constantes ameaças de grileiros, madeireiros e fazendeiros. E, o padre Amaro, herdeiro do legado de luta da missionária, convive com toda ordem de ameaças e coações.

Nesta mesma toada de violência, antes de Isac, o camponês Fernando Araújo Santos foi executado com um tiro na nuca na cidade de Pau D´arco, no sul paraense. Santos era testemunha chave do massacre de dez camponeses ligados à Liga dos Camponeses Pobres (LCP) ocorrido em 2017 em operação de reintegração de posse da fazenda Santa Lúcia. Todos os 16 policiais militares e civis envolvidos no caso estão em liberdade e trabalhando.

A balada de violência no Pará não dá trégua. Benedito Cordeiro de Carvalho, também indígena do povo Tembé foi assassinado no dia 2 de março com um tiro na cabeça em plena luz do dia, no município de Capitão Poço, nordeste do estado. O caso ocorreu com menos de 30 dias da morte de Isac. Didi, como era conhecido, era guarda municipal na cidade de Ourém, município na mesma região. O indígena foi executado quando se dirigia de moto para aldeia para visitar parentes.

Tragédia a sobrepor tragédia. Até o dia que antecedeu a execução do camponês Santos, a única pessoa envolvida no caso que estava presa era o advogado de defesa dos camponeses, José Vargas Junior, que tem se notabilizado mundialmente por defender camponeses e indígenas na delicada região sul paraense.

Aos moldes do anuviado caso da prisão de brigadistas da vila de Alter do Chão em novembro de 2019, no município de Santarém, a prisão do advogado é envolta de suspeitas com relação às acusações. Vargas é considerado pelas forças policiais como elemento suspeito no desaparecimento de um presidente de associação do município de Redenção. A base de acusação é uma piada sobre o caso encontrada no celular no advogado.

Entidades ligadas à defesa dos direitos humanos no estado denominam a questão como criminalização na luta por direitos e dos movimentos sociais, em particular os ligados à luta no campo, meio ambiente e direitos humanos. Nesta linha, antes de ser executada, a missionária Dorothy foi acusada em armar camponeses. A mesma imputação foi realizada contra o padre Amaro, que chegou a ser preso entre março e junho de 2018, e responde a processo.

Sobre os casos acima, no momento o advogado encontra-se em prisão domiciliar. Sobre os brigadistas de Santarém, o Ministério Público Federal (MPF) decidiu pelo arquivamento das acusações de terem ateado fogo na floresta.

No mesmo ano do caso da prisão dos brigadistas, em agosto, fazendeiros e empresários da cidade de Novo Progresso, no oeste do Pará, organizaram o Dia do Fogo. A mobilização foi organizada a partir de grupos de aplicativos sociais.

A denúncia foi realizada pelo jornalista Adécio Piran, do site Folha do Progresso. Após denunciar o crime, que incrementou os focos de incêndio na cidade em 300% durante dois dias, o jornalista foi obrigado a ficar fora do município por dois meses por conta de ameaças de morte.

O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais da cidade, Agamenon Menezes e o dono da loja Agropecuária Sertão, Ricardo de Nadai são considerados os articuladores do crime, conta reportagem de Daniel Camargos, de 23 de outubro de 2019, publicada no site Repórter Brasil. As investigações são dificultadas por conta da relação dos acusados com políticos do estado e fora dele, avalia a reportagem.

A violência no estado é um rosário sem fim. No mês de março o assassinato da dirigente do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Dilma Ferreira Silva, de Tucuruí, soma dois anos.

Além de Silva foram mortos o marido, Claudionor Costa e um amigo, Hilton Lopes. Já em maio, o assassinato do casal de extrativistas do projeto de assentamento Praia Alta Piranheira, de Nova Ipixuna, José Cláudio e Maria do Espírito Santo, soma uma década.

José Cláudio e Maria do Espírito Santo, casal de extrativistas do projeto de assentamento Praia Alta Piranheira, de Nova Ipixuna, foram assassinados há 10 anos / Foto: Felipe Milanez

Violência no estado vem de longa data

Instituições alinhadas à defesa da reforma agrária, do meio ambiente e de direitos humanos não sabem precisar o número exato de pessoas ameaçadas de morte no Pará. O certo é que a violência no estado vem de longa data, sendo a década de 1980 considerada a mais sangrenta. Terra, subsolo, água e as riquezas da floresta ocupam o centro de disputas por diferentes sujeitos de interesses díspares, dentro e fora do estado.

Boa parte destes indicadores nefastos tem explicação nas diferentes experiências de projetos de desenvolvimento na Amazônia, estes baseados em grandes projetos, que tendem a expropriar as populações consideradas tradicionais, a exemplo de indígenas, extrativistas, remanescentes de quilombos e camponeses, e a concentrar terra e renda nas mãos de poucos. E, tem-se ainda, o interesse pelo subsolo.

É justo contra este ambiente de indicadores de desmatamento, exploração ilegal da madeira, concentração da terra, monocultivo homogeneizadores, uso de agrotóxicos e violências que um conjunto de organizações de vários campos defendem a institucionalização de uma Política Estadual de Manejo Florestal Comunitário e Familiar (PEMFCF), onde os diferentes sujeitos sociais historicamente marginalizados do estado possam ter assegurado o direito de sua reprodução econômica, política, social e cultural a partir de seus territórios, como legítimos guardadores da terra, da floresta e dos rios.

“Acreditamos que este quadro triste marcado pelo desmatamento e violências contra as populações tradicionais do estado pode em certa medida retroagir com a efetivação da PEMFCF tendo como horizonte a convergência de várias ações no fortalecimento destas populações historicamente marginalizas no conjunto de experiências de políticas de desenvolvimento imposto para a região”, argumenta Manuel Amaral, um dos animadores da proposta e coordenador do Instituto de Educação do Brasil (IEB) no Pará. A jornada soma perto de uma década.

 

Leia a segunda reportagem da série sobre desmatamento na Amazônia: Manejo Florestal Comunitário e Familiar: há uma década organizações sociais populares, ONGs e pesquisadores pleiteiam a efetivação da política no Pará

Boletim internacional destaca manejo florestal comunitário

A Organização Internacional de Madeira Tropical (em Inglês: International Tropical Timber Organization – ITTO) lançou seu último boletim trimestral de 2020. O projeto “Bom Manejo” desenvolvido pela Embrapa Amazônia Oriental é um dos destaque da edição, com o artigo “O Futuro é Agora” assinado pelo coordenador da iniciativa, o pesquisador da Embrapa, Milton Kanashiro.

“O Manejo Florestal Comunitário e Familiar (MFCF) traz uma nova perspectiva para o manejo florestal porque a maioria de seus membros cultivam terras e produzem seus próprios alimentos e também estão interessados ​​na produção de produtos florestais madeireiros e não-madeireiros”, destaca Milton sobre algumas características do MFCF.

Escrito em meio a crise pandêmica, o texto expõe o apoio e o papel do OMFCF em alertar as comunidades sobre os perigos da COVID-19. O mercado florestal também é refletido no artigo incluso no boletim chamado TFU (Tropical Forest Updated), que reúne conteúdos de outros parceiros do ITTO ao redor do mundo.

Acesse o artigo “O Futuro é Agora” em Inglês no boletim TFU
Acesse o artigo “O Futuro é Agora” em português

Artigo apresenta dados atualizados do potencial de manejo sustentável em áreas protegidas de uso comunitário na Amazônia

Artigo publicado no volume 32 da revista Sociedade & Natureza, publicação Qualis A1 na área de Geografia, apresenta dados atualizados do potencial de manejo sustentável em áreas protegidas de uso comunitário na Amazônia, responsável por garantir o uso sustentável da biodiversidade e a manutenção dos povos e populações tradicionais que habitam no território brasileiro.

Segundo os autores, aproximadamente 242.556 mil km2 de áreas em UCs de uso sustentável na Amazônia estariam habilitadas para a produção florestal comunitária. O restante, cerca de 276.996 mil km2, estariam destinadas ao manejo empresarial. Considerando o aproveitamento médio de 10m³/ha em um ciclo de corte de 30 anos, haveria a estimativa de produção de 24 milhões de metros cúbicos de madeira em tora/ano oriundo de florestas públicas comunitárias.

Confira a íntegra do artigo: https://www.scielo.br/j/sn/a/ncCv5JbRYYMfYNXtrJD78mt/?lang=pt#

 

Organizações da sociedade civil e academia discutem plano de redução de desmatamento publicado pelo governo do Pará

Em agosto deste ano, o Governo do Pará instituiu por decreto o Plano Estadual Amazônia Agora. Um dos objetivos é diminuir o desmatamento no estado, que lidera as estatísticas de desmatamento na Amazônia. Para discutir as medidas propostas e eventuais lacunas desse plano, organizações que atuam no Pará promoverão a série de webinários “Debatendo o Plano Estadual Amazônia Agora  na visão da sociedade civil e academia”.

De acordo com o último boletim do desmatamento divulgado pelo Imazon, um dos organizadores do evento, o Pará foi o responsável por mais da metade de todo o desmatamento na Amazônia em setembro. É o sexto mês consecutivo que o estado encabeça o ranking dos que mais derrubaram árvores na Amazônia. Dos dez municípios que mais desmataram, oito são paraenses. Altamira, no sudoeste do estado, aparece em primeiro lugar. Também fazem parte do ranking: São Félix do Xingu, Pacajá, Novo Progresso, Portel, Senador José Porfírio, Itaituba e Placas.

A pesquisadora Brenda Brito alerta que esse problema afeta diretamente todos nós, já que contribui com aumento de queimadas e de problemas respiratórios associados. “Além disso, o desmatamento emite gases do efeito estufa que levam ao aquecimento do planeta. E nós já estamos sentindo as consequências das mudanças climáticas na região Amazônia, com eventos climáticos extremos mais frequentes, como fortes secas e também chuvas mais intensas”, acrescenta.

De acordo com a Elis Araújo, advogada do Programa Xingu do Instituto Socioambiental (ISA), é importante que o Pará tome medidas que visem combater o aumento do desmatamento e das emissões de gases do efeito estufa. “O Plano estadual Amazônia Agora traz metas e ações para essa finalidade, mas é importante que seja mais amplamente discutido com a sociedade civil e com a academia atuante no Estado, seja para amplificar seus aspectos positivos, construir parcerias e também identificar lacunas e propor aperfeiçoamentos”, afirma Elis.

Além do Imazon, também participam da organização do evento: Instituto Socioambiental, Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Imaflora, Observatório do Manejo Florestal, Comunitário e Familiar, Instituto de Ciências Jurídicas da UFPA e a Clínica de Direitos Humanos da Amazônia da UFPA. “As instituições organizadoras dessa série de webinários querem promover esse diálogo mais amplo, mesmo com a limitação on line devido à pandemia. Queremos que o público possa conhecer mais sobre o plano, ouvir os pontos de vista das instituições da sociedade e academia, além de participar enviando perguntas e comentários”, afirma Manuel Amaral, Coordenador Executivo do IEB.

Serviço

Webinários “Debatendo o Plano Estadual Amazônia Agora – a visão da sociedade civil e academia”
Dias 11, 12 e 18/11 e 02 e 09/12
Transmissão ao vivo pelo Facebook e YouTube do Imazon
A inscrição é gratuita e pode ser feita pelo site do evento

 

Fonte: imazon.org.br

Comunitários garantem crédito para realização de manejo florestal em Unidade de Conservação

No último dia 29 de setembro, moradores (as) da Reserva Extrativista Verde para Sempre (Resex VPS), em Porto de Moz, no Pará, mostraram novamente a viabilidade econômica do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (MFCF), ao garantir pela segunda vez crédito bancário para custear as operações de extração sustentável de madeira.

A recente conquista foi da Cooperativa Mista Agroextrativista Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do Rio Arimum (Coomnspra) que obteve crédito junto ao Banco da Amazônia, via o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). A Cooperativa e a Associação Espírito Santo, também da Resex VPS, foram pioneiras no país ao financiar o custeio do MFCF via o programa do governo federal.

“O Pronaf é a melhor fonte de recursos para os extrativistas e suas organizações. É estável, com menor custo, maior oferta de recursos e a mais fácil de ser obtida”. Ressalta João Luiz Guadagnin, membro do Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus). Ele explica que os recursos são liberados na modalidade de crédito coletivo, ou seja, os contratos com o banco são feitos individualmente, e os valores depositados na conta da cooperativa.

Atualmente a Coomnspra possuí 65 cooperados entre homens e mulheres. É uma das oito organizações comunitárias com planos de manejo ativos na Resex VPS. A cooperativa é pioneira no MFCF dentro de Unidades de Conservação no país, tendo obtido em 2016 a certificação FSC. Com a pandemia as atividades de extração sustentável quase foram interrompidas e famílias da Resex passaram por dificuldades financeiras.

“O crédito chegou após a etapa de retirada da madeira, encerrada no início de setembro quando as chuvas se intensificam e fica inviável a extração. O ideal é que conseguíssemos os recursos antes desse período para quitar com brevidade os maiores custos” comenta a extrativista e secretária da cooperativa, Rosalina Magalhães. “Com os valores repassados poderemos pagar os cooperados (as) que participaram das atividades de manejo e alguns custos operacionais, como o aluguel de máquinas”, relata sobre o uso do crédito.

“Concessão de crédito para o MFCF junto ao Basa vem sendo debatido desde o início dos anos 2000, através de uma experiência desenvolvida em Machadinho D’Oeste em Rondônia”, resgata Manuel Amaral Neto, coordenador do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB).

“As organizações comunitárias de Porto de Moz estão fazendo sua parte e dando um passo importante ao acessar esse financiamento que pode fazer diferença para conservação florestal em tempos de retomada dos índices de desmatamento na região. Contudo, ainda é preciso desburocratizar mais esse processo e tornar o recurso disponível para outros territórios de incidência do manejo comunitário na Amazônia”, afirma Manuel.

O empréstimo adquirido ano passado pela Coomnspra foi quitado em menos de um ano, fator determinante para aquisição do novo crédito que terá juros de 2,75% ao ano, a menor taxa de custeio do Pronaf.

Conheça alguns pontos importantes para efetivação das negociações.

  1. Garantias: Operação bancária realizada mediante a apresentação da Autorização de Exploração (AUTEX) e contrato de venda da madeira;
  2. Manejo: a exploração sustentável da madeira tem autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio);
  3. Renda: comprovação de renda dos beneficiários realizada com Declaração de Aptidão ao Pronaf (DPA) dos extrativistas e da madeira que irão manejar.

Para a obtenção do crédito a Coomnspra teve o apoio do IEB, Conexsus, Emater (escritório Porto de Moz), Basa, ICMBio e Observatório do Manejo Floresta Comunitário e Familiar (OMFCF).

Campanha leva proteção a comunidades do Nordeste paraense

Em maio o Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF), o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) promoveram a campanha “Proteção para as populações amazônicas” que arrecadou recursos para confecção de máscaras e a compra de materiais de proteção contra o coronavírus.

Ao fim da campanha o valor arrecadado foi de aproximadamente R$ 10 mil, com a contribuição de mais de 40 pessoas. Em julho os valores foram repassados para Rede Bragantina e Economia Solidária Artes e Sabores – com atuação no nordeste paraense – e para o CNS que atende famílias do Marajó e Amapá.

Rede Bragantina

No nordeste do Pará a Rede Bragantina realizou uma oficina pela internet com 12 de mulheres negras e quilombolas que abordou o tema saúde feminina. Em outro momento as participantes receberam um kit confeccionados com recursos da campanha para serem distribuídos em diferentes localidades.

A organização aplicou os recursos da campanha reforçando a cultura do uso plantas medicinais, comum entre as comunidades de tradicionais. O kit continha duas máscaras, essenciais para a proteção contra a COVID-19, um xarope fitoterápico artesanal e dois sabonetes medicinais. Tudo produzido por grupo de mulheres pertencentes às comunidades ligadas Rede Bragantina.

Na confecção do xarope foram usados produtos da sociobiodiversidade. “Usamos Cumaru, extrato de Urucun e extrato de Jucá. Ele serve para o puxado, na nossa linguagem significa combater o cansaço, expelindo o catarro do peito e limpando o pulmão”, explicam Leane  e Dona Dominga, ambas do quilombo Pimenteira, localizado em Santa Luzia do Pará.

Ao todo os materiais atenderam cerca de 200 famílias, de 15 comunidades, em três municípios: Santa Luzia do Pará, Viseu e Capitão Poço.

Em breve conheça como os recursos da campanha foram aplicados em municípios marajoaras e no Amapá.

Foto: Divulgação/ Rede Bragantina e Economia Solidária Artes e Sabores

Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar completa três anos

Hoje (25) por causa da pandemia o Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi está fechado para visitação. O cenário é bem diferente de três anos atrás quando o local recebeu a cerimônia de lançamento do Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF), uma iniciativa que busca conectar organizações da sociedade civil, instituições de ensino e pesquisa para lutar pela defesa do uso sustentável dos territórios comunitários.

Obstáculos

Em 2017 o protagonismo de 24 organizações, a maioria de base comunitária, ajudou a criar o Observatório – atualmente o grupo é composto por 50 membros. A premissa fundamental que articula esse conjunto de organizações é de que o manejo sustentável dos recursos florestais é uma atividade viável para comunidades amazônicas e atua como aliado na luta contra o desmatamento. Embora haja experiências exitosas, os desafios ainda se impõem para o avanço da atividade.

“Os desafios passam pela histórica falta de reconhecimento do protagonismo que as comunidades possuem na relação entre uso e conservação dos recursos naturais da Amazônia”, comenta Alison Castilho, analista socioambiental do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), organização que exerce a secretaria executiva do Observatório.

Outro obstáculo é a escassez de salvaguardas em políticas públicas contextualizada à realidade extrativista. “Isso dificulta e inviabiliza o manejo dos recursos naturais, aliado a uma geração de renda que respeite as características das comunidades”, explica Castilho. Ele cita também o avanço do desmatamento que reduz a biodiversidade e os recursos naturais para o aproveitamento econômico. “São temas estruturantes e prioritários que compõem a agenda conduzida pelo OMFCF”, conclui.

Coletividade

O OMFCF buscou ser um espaço plural e agregador desde sua origem. Por isso sua criação foi precedida de oficinas com representantes da sociedade civil, instituições de ensino e pesquisa. Com uma atuação coletiva, busca criar instrumentos de diálogo e fortalecer estratégias que enfrentem as problemáticas socioambientais existentes na Amazônia, como sua missão anuncia “valorizar e garantir os direitos e os modos de vida de agricultores familiares e povos e comunidades tradicionais da Amazônia”.

Um exemplo recente dessa atuação em rede foi a elaboração e intensa divulgação da carta de apoio às comunidades da Reserva Extrativista Verde para Sempre (Resex VPS), território ameaçado por grupos ligados à bancada ruralista e ao agronegócio que buscam a recategorização da Unidade de Conservação (UC).

Liderança histórica na Resex, Maria Creusa, esteve em Belém no lançamento do Observatório e vem acompanhando, desde então, a atuação do coletivo. “Consideramos o OMFCF importante para a gestão comunitária dentro das UC’s e outros territórios. Temos recebido capacitações para a gestão das cooperativas e associações”, comenta sobre o trabalho de articulação que os membros têm apoiado no âmbito da formação.

Resultados

As ações do observatório enfrentam a incerteza da pandemia. Contudo o cenário atual não inviabilizou que seus membros estejam conectados virtualmente. Nesse período foram realizadas ações de apoio às comunidades isoladas e a promoção do MFCF nas redes sociais, incluindo lives no youtube, sempre buscando priorizar temas importantes para a agenda do manejo florestal.

Em outra linha de ação membros do observatório divulgaram o manejo comunitário em eventos científicos de destaque, tais, como, o Congresso Mundial Pesquisa Florestal (IUFRO) e o Congresso de Agroecologia (CBA). Ao mesmo tempo o coletivo de organizações se posicionou publicamente sobre a pertinência e importância do Fundo Amazônia, afirmando a necessidade de sua manutenção e continuidade, quando este estava sob ameaça pelo ministério do meio ambiente, em 2019.

Desde sua criação o OMFCF tem acompanhado no Pará a tramitação da Política Estadual do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (PEMFCF). Muitas das organizações que integram o Observatório ajudaram a construir o texto base do normativo estadual. A importância da lei foi destaque ano passado em carta enviada aos candidatos ao governo do estado.

Atualmente a minuta de lei está em análise e integra as metas do “Plano Estadual Amazônia Agora”, uma plataforma de ação do governo que busca o desenvolvimento baseado na conservação e valorização ambiental.  Pelo cronograma publicado no dia 04 de agosto no Diário Oficial do Estado, PEMFCF deverá ser instituída até janeiro de 2022.

“O que temos alcançado é fruto da capacidade de articulação das diversas organizações ligadas ao OMFCF”, explica a Coordenadora Adjunta do IEB em Belém, Katiuscia Miranda. “Com o envolvimento dos membros podemos ampliar os temas relacionados ao manejo florestal. Temos discutido, por exemplo, a agroecologia, a diversificação produtiva, os produtos da sociobiodiversidade. Ao mesmo tempo, a representatividade dos (as) integrantes tem nos colocado em espaços importantes no debate da agenda ambiental”, ressalta Miranda.

Atuante no Observatório desde a sua concepção, o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Milton Kanashiro, avalia que a iniciativa pode ir mais longe com o apoio de novos integrantes. “Nesses três anos tivemos muitos avanços e somos gratos a cada um que faz parte dessa história. Contudo temos muito mais a alcançar. Queremos mais organizações nessa empreitada. Somos o Todo! Florestas Sempre!”, lembra Milton.

Ao vivo

Nesta quinta feira (27), como parte das comemorações, o OMFCF promove um diálogo ao vivo (live) com tema “Relações Empresas-Comunidades: desafios e potencialidades para a bioeconomia na Amazônia”. Participam do encontro Leonardo Sobral (Imaflora), Marco Lentini (Imaflora), Katiúscia Miranda (IEB) e Jeferson Straatmann (ISA). A moderação será de Iaci Penteado (CI-Brasil). O início será às 18h30. Acesse: youtu.be/6Mn1x5_ZceU

Arrecadação apoiará 4 mil famílias no combate ao Coronavírus

A campanha “Proteção para as populações amazônicas” concluiu o processo de arrecadação coletiva no site benfeitoria.com, reunindo a partir da colaboração de 43 pessoas, um valor líquido R$ R$ 9.246,00 ( Descontos: 3,5% para Benfeitoria | Taxa da integradora financeira: 4.5%). Além das doações pela plataforma  foram feitas doações diretamente para a conta do IEB. No total o valor arrecado com o deposito direto e a plataforma colaborativa somou R$ 10.096,00.

A ação de solidariedade foi uma iniciativa do Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF), juntamente com o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e organizações sociais de base comunitária com atuação na região Norte. A previsão é que o
valor arrecadado beneficia 4 mil famílias.

Os recursos serão aplicados no apoio a confecção de máscaras e na compra de equipamentos de proteção individual e materiais de higiene para comunidades de áreas florestais no Pará. O valor arrecadado será somado a outros recursos provenientes de projetos ligados ao OMFCF. Esse aporte inicial já viabilizou a confecção de mais de três mil máscaras com a participação de grupos de mulheres de comunidades no Pará e Amapá.

Os envolvidos na campanha agradecem a participação de todos (as) que contribuíram com a ação de solidariedade. A ajuda concedida é um grande reforço na luta para contenção da pandemia em comunidades amazônicas. É importante lembrar que nesse momento outras ações de apoio às populações da Amazônia estão em curso, por isso é imprescindível manter mobilização, o engajamento e a solidariedade às populações mais vulneráveis do Brasil.

Política Estadual de Agroecologia vai à Consulta Pública

Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF) realizará discussões para promover o engajamento da sociedade civil 

A partir de hoje (05/06) e pelos próximos 30 dias, estará disponível para Consulta Pública o texto da Política Estadual de Agroecologia, Produção Orgânica e da Sociobiodiversidade (PEAPOS). O Texto é fruto de um trabalho da Câmara Técnica de Comercialização, Agroecologia e Produtos Orgânicos e da Sociobiodiversidade (CTCAPOS). O Colegiado reúne representantes de órgãos governamentais, universidades, movimentos sociais e organizações não governamentais.

O OMFCF apoia a Política e entende que esse processo fortalece práticas conservacionistas e promove a soberania e a segurança alimentar dos povos e comunidades tradicionais do Estado do Pará. “Participamos das reuniões da CTCAPOS com intuito de qualificar os procedimentos para o direcionamento das discussões e promover amplo diálogo junto ao público do Observatório”, afirma o analista socioambiental do IEB, Alison Castilho. “Vamos mobilizar as organizações da Rede do Observatório e as demais instituições com incidência sobre o tema para o aperfeiçoamento do documento e acompanhamento da tramitação na ALEPA”, destaca Castilho.

O Projeto de Lei da PEAPOS é submetido à consulta em um momento de retomada da alta do desmatamento no Pará. Apesar de reconhecer os esforços do Governo do Estado, como a aprovação, no mês passado, da Política Estadual sobre Mudanças Climáticas (PEMC/PA) e da estruturação de outros programas de combate ao desmatamento, como o “Amazônia Agora”, as organizações do Observatório ainda aguardam a aprovação do Decreto da Política Estadual de Manejo Florestal Comunitário e Familiar, cujo processo de Consulta Pública já foi realizado e o documento final está sob análise do Ideflor-Bio, desde 2019.

A consulta ao PL da PEAPOS pode ser feita pelo link http://www.sedap.pa.gov.br/consulta-publica

Foto: Acervo IEB/Lucas Filho

[[arrow_upward|]]